terça-feira, 6 de maio de 2014

O homem, mesmo vivendo em grupos, é um ser solitário que se move exclusivamente em nome de seus próprios e exclusivos interesses. Se, para conseguir o que quer, precisa prejudicar alguém, ele prejudica. Se, ao contrário, precisa beneficiar o outro para chegar ao seu objetivo, ele beneficia. E é por isso que Mané não se surpreende mais, ou se surpreende muito pouco, com as atitudes dos outros, as boas e as más. É por isso também que Mané sabe que todos, todos mesmo, até a própria mãe, têm pelo menos um segredo inconfessável.06/05/2014
Mané adquiriu recentemente uma nova habilidade que é a de detectar no meio de uma multidão de desconhecidos, quais daqueles foram um dia, gordos obesos como ele. Esta detecção pode ser fácil ou muito difícil, dependendo da idade do desconhecido. Se o ex-gordo é jovem, alguns traços da sua antiga obesidade são apagados, como as sobras de pele no pescoço, por exemplo, que são muito visíveis nos de meia idade. Quando isso acontece, Mané observa o jeito de andar do desconhecido, o jeito de por a mão no bolso, de coçar as costas ou de cruzar as pernas quando senta. Todas essas atitudes denunciam o ex-gordo. Não resistindo à curiosidade Mané perguntou para uma pessoa a quem tinha acabado de ser apresentado, assim à queima roupa, se ela era uma ex-gorda. A moça, enquanto negava balançando as sua papada, perguntou a Mané qual era o motivo de tamanho atrevimento e quando Mané explicou, ela se rendeu e disse: “sim, eu pesava 130kg, fiz uma operação e perdi quase 50kg e uma pessoa que foi sempre magra como você, nunca vai entender as dificuldades pelas quais um gordo passa”. Mané não lhe concedeu a verdade, ao invés, retirou-se achando que aquela ex-obesa, hoje com algum sobrepeso, não tinha nenhuma sensibilidade e só sabia olhar para seu próprio umbigo, se é que ela consegue.04/05/2014

sexta-feira, 2 de maio de 2014

“Caso tivesse que escolher uma única parte do corpo dela, escolheria aquele pedaço que vai das costelas até meio palmo abaixo do umbigo, onde tem uma cicatriz na horizontal, que ao longo do tempo foi perdendo a cor, ficando às vezes quase impossível de se ver. Ali naquele pedaço de pele muito lisa, tem um pequeno abaulado, aquele côncavo necessário que dá a forma ideal para o local onde esta abrigado o estomago. Não escolheria seios, nem colo; nem bunda, nem mesmo as costas eretas ou as coxas. Nem os pés. Preferiria ficar com aquele espaço onde dava pra passar a mão, encostar a cabeça ou simplesmente olhar.” 02/05/2014
Faz dois dias que Mané abandonou seu carro consumidor de combustível, poluidor e causador de trânsito na garagem e singra pela cidade de metrô. De casa para o trabalho são 40 minutos sendo 20 de caminhada e 20 no subway, lendo um livro, usando o iPhone ou observando as pessoas. Mané gostou da experiência. Hoje repetiu a dose indo também a uma reunião no centro da cidade e usando bilhete único de 3 real. Fora do horário de pico e sem nenhum incidente, temos um transporte coletivo de primeiríssimo mundo. Mané foi consultar a filha sobre outro destino e ela o aconselhou a ir de ônibus. “Dá pra ir de metrô, mas de ônibus é mais simples”, disse a menina. Será que a ousadia de Mané chega a tanto? De busão não dá né? Ou dá?29/04/2013
Depois de uma semana escrota, a quinta-feira de Mané, que também poderia ser desastrosa, na verdade foi supimpa. Mané começou o dia fazendo endoscopia e ao invés de filas de espera, Mané encontrou pessoas sorridentes e um atendimento rápido, fora o barato da sedação. Mais tarde Mané saiu pra fazer compras com a mulher e o filho, almoçou num kilo bacana (o prato de Mané saiu R$ 7,14) e depois voltou pra casa e dormiu durante três horas seguindo as instruções do médico que lhe recomendou repouso pós anestésico. Lá pelas cinco da tarde, quando sua mulher saiu pra trabalhar, Mané saiu com sua filha, seu filho e seu cachorro para um passeio pela Vila Madalena, andaram, tomaram sorvete, compraram figurinhas, algo pro jantar e o cachorro fez xixi e cocô. Una giornatta particolare. Um dia feliz. 17/042014