quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Mané não percebeu, mas de repente a vida ficou bagunçada. As pontas que antes estavam todas amarradas ficaram soltas, coisas que faziam sentido até anteontem já não fazem mais. Quem acompanha suas aventuras sabe que ele sempre foi uma pessoa organizada, cumpridora de prazos e obrigações, costuma dar satisfação a torto e a direito, nunca chega atrasado a um compromisso por mais insignificante que seja, enfim, um verdadeiro mané. Pois bem isso acabou, ou vai acabar, ou melhor, esta acabando. Alguns vão lembrar que todo ano, quando começava a entrega das declarações de imposto de renda, Mané tinha orgulho de postar o recibo de entrega poucos minutos depois desse serviço ser disponibilizado pela receita federal. Foi Salma que deu início a esse processo ao não disponibilizar seus dados, como Mané exigia todo ano. Ela disse que ia atrasar devido ao inventario do pai e Mané se viu de mãos amarradas. Mané relaxou, não vai sucumbir ao fogo amigo. Depois, uma pane humana na própria empresa fez com que as informações do próprio Mané não fossem fornecidas por ele mesmo para ele mesmo num episodio que é mais do que fogo amigo, praticamente suicídio. No trabalho, Mané que já tinha horários elásticos, passou a se impor o regime sem horários. Mané não retorna ligações de amigos, impõe condições e horários ao seu companheiro de caminhadas, responde aos familiares com monossílabos e pergunta pro cachorro se ele quer passar o colírio pomada; se este rosna Mané não passa o remédio e por incrível, Milu parou de rosnar. E pasmem: Mané voltou a ir ao cinema de tarde sozinho, que ninguém nos leia e depois fica tentando arrumar desculpas para explicar a Salma porque diabos ele sabe tanto a respeito do enredo de determinado filme que tinham combinado ir ver juntos. O fato é que Mané ainda não tem todos os documentos para fazer o imposto de renda, provavelmente vai entregar só em meados de abril e amanhã cedo, vai ficar três horas sentado, lendo numa oficina enquanto o martelinho de ouro tenta tirar um picote que apareceu na porta do seu carro. 28/02/2018

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Salma flagrou esse mínimo deslize e exigiu que Mané expusesse novamente o resultado das mazelas de um matrimônio prolongado. Mané pode ser acusado de muitas coisas mas tem um senso de justiça apuradíssimo e assim publica aqui essa foto que ilustra a simbiose de defeitos que decorre da vida de um casal.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Casamento sempre da problema. O de Mané e Salma não é diferente. Salma é uma pessoa, digamos, menos metódica que Mané e isso se reflete nas pequenas coisas do dia a dia. No início do casamento Mané cansou de atender o porteiro ligando no interfone: “seo Mané, dona Salma saiu aqui da garagem com as coisas no teto do carro e espalhou tudo pela rua, eu peguei o que consegui, estão aqui na portaria.” Ou ainda quando Mané tinha que usar o carro de Salma e tinha que ficar 10 minutos recolhendo livros, apostilas, sapatos, chinelos, saquinhos com guloseimas e muitas outras coisas antes de conseguir entrar. Mas tudo isso ficou no tempo, algumas coisas Salma melhorou, outras Mané releva. Hoje em dia o problema está na garagem. Mané até que tem sorte, as vagas são independentes de forma que um não atrapalha o outro. Não atrapalharia, claro se Salma ocupasse apenas o espaço reservado para o carro dela. Como podem ver na imagem, Mané estaciona rigorosamente dentro da sua vaga, independente das manobras que tenha que realizar. Já Salma, chega do trânsito sempre cansada e imbica na vaga do jeito que for, chega chegando, o que obriga Mané, que fica sem ângulo, a fazer mais e mais manobras. Mané já pensou em denunciá-la ao síndico, cobrar-lhe alguns picotes nas portas, mas achou que estaria se expondo ao ridículo. Aliás essa coisa de invasão de espaço alheio não se limita à garagem, mas aí, já é outra história.09/02/2018

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Há um código de conduta no metrô segundo o qual o usuário, quando nas escadas rolantes, deve se postar do lado direito a fim de que os apressadinhos possam circular livremente do lado esquerdo, Mané não sabe porque o cara não sobe pela escada fixa se ele queria subir pelos próprios pés. Mas, enfim, existe o código e Mané, que é um primor de civilidade, o obedece. Hoje, quando Mané se dirigia à escada, notou à frente um velhinho bem prejudicado que mancava e era maneta. Faltava-lhe o braço direito inteiro. Chegando à escada rolante, tentou se postar do lado direito mas percebeu que ficaria sem equilíbrio, já que lhe faltava o braço e assim, colocou-se do lado esquerdo, apoiou o braço existente no corrimão e consequentemente empacou a fila dos apressados. Mané, que estava bem perto, notou um rumor de desagrado entre os usuários, talvez não tivessem percebido que lhe faltava o membro ou talvez fossem escrotos mesmo. Assim, tentando resolver a situação, Mané deu um passo à esquerda postando-se atrás do homem e pouco a pouco todos os que estavam parados do lado direito foram para o lado esquerdo, liberando espaço para os apressados subirem pela mão direita. O velhinho lançou um olhar de agradecimento à Mané, uma senhora afagou-lhe o ombro sorrindo quando saíram da escada rolante que, aliás, era bem comprida. Mané, que ficou se sentindo bem, enquanto resfolegava pelas pirambeiras da Vila Madalena, pensou porque razão o homem não tinha subido pelo elevador, mas isso, na verdade, não tem nenhuma importância.02/02/2018

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Mané esta sentado no metrô e não se decide entre comer a pêra que tem na mochila ou abrir o livro que não está lá muito empolgante. O trem esta vazio, o ar condicionado polar e Mané resolve apenas observar. De óculos escuro ele olha para todo lado, mas ninguém sabe direito para onde ele olha. Bem na sua frente viaja uma mulher que parece também indecisa. Ela já fuçou a bolsa, já leu um folheto e já ficou observando através de seus óculos também escuros. Nesse momento ela abre um potinho de creme. A cor do pote Mané não consegue precisar, afinal por trás dos óculos tudo parece marrom. Ela abre o pote e passa dois dedos no creme e começa a passar a substancia e esfregar um dos braços. Mané se pergunta se aquilo seria um hidratante. Ela termina aquele braço e começa a fazer o mesmo com o outro, nas mãos e também no rosto. Mané já viu gente comendo no metrô, já viu moças dando de mamar, já viu gente lendo e mexendo no celular, a atividade campeã neste meio de transporte. Mané já viu gente passando fio dental, discretamente, já viu gente limpando o nariz e chorando. Já viu namorados dando amassos, já viu gente brigando. Garotas passando hidratante Mané nunca tinha visto. Mané, que já estava constrangido de encarar a moça, desvia o olhar, mas um movimento lhe chama a atenção e ele se vira de novo para ela para flagrá-la untando novamente os dedos e, enquanto levantava discretamente o vestido, começar a passar o tal creme nas coxas. Passou o creme naquele região que vai ate um palmo acima dos joelhos, esfregou de um lado e de outro. Depois, dando uma olhada para os lados, levantou um palmo mais e passou creme nas coxas ate quase a altura da virilha. Mesmerizado, Mané não consegue desviar o olhar e ela repete a operação na outra perna e depois, como quem se prepara para dar um salto no abismo, ela abre ligeiramente as pernas e, com os dedos lambuzados, começa a passar o creme entre as pernas, naquele pedaço interno mais macio. Mané, que não compreende direito o que vê, julga que ela tem umas pernas bem bonitas, efeito do creme talvez mas a calcinha com certeza era escura. Mané tem um sobressalto quando percebe que a moça esta olhando pra ele com um meio sorriso, enquanto ainda esfrega a pele macia. Mané não sabe se deve sorrir também, como se aquilo não significasse nada, mas para seu alívio neste momento o trem chegou ao Terminal Vila Madalena e Mané, que nunca se levanta antes da parada do comboio, levantou-se de pronto e afastou-se da cena, sentindo certa vergonha alheia. Mané ainda olhou com o rabo do olho a ver para que lado a moça iria mas ela não estava mais à vista então ele se dirigiu à escada rolante e de lá para as ladeiras que o levam pra casa. 01/02/2018