segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Hoje Mané não estava com muita vontade, mas foi dar sua caminhada de numero 151. Anuar relutou, mas Mané tratou-o com rudeza e então o menino o acompanhou. Eles foram pela sesquicentesima-primeira vez andar na Vila Madalena, bairro que anda sendo desfigurado, Mané não quis nem passar na frente da doceira onde toma café e como estava muito frio e garoando Anuar não quis tomar sorvete. Não tiraram nenhuma fotografia e, com as obras daquele monte de prédios a todo vapor, mal conseguiam conversar e, por sorte, pó não tinha porque as ruas estavam molhadas. Aliás, as ruas da Vila Madalena são completamente hostis aos pedestres. Quebradeira, buracos, árvores tortas, Mané quase esfolou a cabeça num tronco que invadia a passagem e Anuar por pouco não esborracha o rosto ao tropeçar numa daquelas placas de metal que eles põem na calçada para tapar um buraco de uma obra, algo que deveria ser temporário, mas faz cinco meses que aquele entulho esta ali e ninguém tira, Mané esta pensando em fazer uma queixa. Mané decorou quase todas as armadilhas das ruas, mas difícil mesmo é desviar dos cocos de cachorro porque esses mudam de lugar todos os dias, que espécie de idiota sai para passear com o cachorro e deixa a bosta no meio da rua? Pelo meio do caminho Mané já começa a perder o ar por conta da máscara, hoje não porque estava frio, mas no calor aquele pano é insuportável. Toda hora Mané tem que dar bronca em Anuar porque o garoto fica usando a máscara no queixo e Mané lhe diz que covid entra pela boca, olhos e nariz, não pelo queixo e, certa vez, Anuar lhe perguntou por que então não andavam de tapa-olho? Em dado momento Salma ligou e pediu para ele comprar alguma coisa para ao almoço e Mané respondeu que não tinha nada pra comprar que ela pedisse à auxiliar cozinhar já que segunda feira era o dia que ela trabalhava, aliás, “ela recebe pelo mês inteiro e só trabalha duas vezes por semana, fala pra ela cozinhar e congela a comida, não vou comprar mais nada”! E Salma: “a corda do varal quebrou, você pode comprar outra”? “E Mané: "comprar pra que, quem vai colocar, aquilo é a maior complicação, fica sem um varal, não tem três”? Chegaram em casa molhados e de mau humor, Mané reclamou que ninguém tinha limpado o banheirinho do cachorro, não quis assistir série nenhuma e atirou-se na cama para ler mas ele não esta gostando do livro da vez. Foi expulso do quarto pela auxiliar de serviços gerais e sentou-se amuado à frente do computador e nem percebeu que estava desligado. Salma apareceu com seu telefone na mão e disse que era do trabalho. Mané não atendeu. De tarde ele tem que levar Samira até a Vila Mariana, depois vão pedir hambúrgueres que é uma recente tradição das segundas feiras e um pouco mais tarde ele vai dormir porque a noite passada foi péssima. Choveu e trovoou e quando isso acontece Milu fica inquieto e entra nos quartos, anda pra lá e pra cá e fica tremendo e exigindo atenção. E se eles não dão atenção ele fica andando pela casa e unhas de cachorro em piso de madeira, tic tic tic tic à noite é equivalente a uma descarga de escapamento aberto de motocicleta dentro do quarto. E que idéia é essa de Samira ir morar sozinha, ta faltando alguma coisa aqui, Mané se pergunta? E, olha não adianta esses aloprados dos russos dizerem que essa porra de vacina está pronta, qualquer imbecil sabe que vai demorar um ano ainda se tudo der certo! 17/8/2020
Hoje Mané foi dar sua caminhada número 150 PP. Anuar que passou a acompanhá-lo fez a sua de número 107. Mané e Anuar andam pela Vila Madalena, compram coisas, Anuar toma sorvete e Mané toma café. Também tiram fotografias dos prédios que estão brotando como ervas daninhas, pode-se afirmar que tem pelo menos 11 prédios em construção, só na rua deles. Anuar já deve ter tomado uns 100 sorvetes de duas bolas, 200 bolas portanto. Já compraram, pra levar, empanadas argentinas, esfihas, pão que não acaba mais, frios, refrigerantes e muitos outros produtos que lhes passam pela frente. Anuar prefere os dias úteis, com o comércio aberto tem mais opções para comprar. Tuperwares, canetas, fio macramé, biscuit, livros, mochilas, telefone sem fio, todo tipo de tralha que na pandemia viraram gêneros de primeira necessidade já vieram pra casa. Por outro lado nunca se arrumou tanto os armários e nunca se jogou tanta porcaria fora, certamente podemos viver com, digamos, 35% das coisas que possuímos. Hoje a noite Mané vai atingir uma marca inimaginável no dia 16/03/2020: quando sentar à frente da TV para ver o último capítulo da segunda temporada de Dexter, talvez sua 12a série da pandemia, terá lavado a sua louça de número 450 e terá limpado o banheirinho do Milu pela 600a vez. Terá lido 32 livros, passado 1854 e-mails, WhatsApp ele certamente perdeu a conta. Em compensação Mané só consegue se lembrar de três desavenças com Salma e duas com colegas de trabalho. Isso tudo é muito deprimente. Sem contar que daqui uns dias, Samira vai deixar o ninho, por sorte terá um vôo de galinha, vai pousar na mesma rua a três batidinhas de asas, um prato a menos pra lavar, um quarto a mais na casa. Mané deseja que venha a vacina, de onde quer que seja. !ואומרו אמן 16/8/2020
A cabeça vai bem na pandemia? Vai, vai muito bem, SQN. Ontem, depois de assistir dois episódios de Seinfeld e um de Dexter, Mané foi dormir. Afofou os travesseiros, puxou a colcha, o lençol e o édredon, foi escovar os dentes e fazer suas abluções. Deitado, pegou seu livro, leu três capítulos e depois, aninhou-se dentro de um casulo e se pôs a pensar. Logo veio a escuridão e isso é tudo que ele lembra, o resto da história quem conta é Salma. Uma hora depois de ter se retirado Mané aparece na sala e pergunta se o café está pronto. Está de pijama, por cima um short preto e calçando tênis. Salma pergunta se ele tá doido e ele diz que está com pressa, precisa ir andar no parque e depois trabalhar. Salma já alarmada lhe diz pra sentar e tenta convencê-lo a ir dormir. Mané lhe diz que se ela não quer fazer o café ele vai em jejum mesmo. Salma o leva até a janela e lhe mostra a escuridão, ele diz que no inverno as manhãs são escuras, vou escovar os dentes e sair. Vem Samira e começa a gargalhar, o que o pai tá fazendo de tênis e pijama na sala? Que pijama, retruca Mané, sentado-se na poltrona subitamente parecendo cansado. Faço um chá, pergunta Salma? Pai, vc está parecendo chapado. Salma pede pra Samira se calar e Mané diz que não vai andar hoje, está se sentindo cansado. Samira bate uma foto e ele levanta e volta pro quarto. Senta na cama, tira o tênis e as meias, deita, põe os óculos de leitura, pega o livro, apaga a luz, abraça o livro, vira pro lado e em um minuto estava ressonando. Salma tirou os óculos da cara dele e tentou tirar o livro dos seus braços mas ele não deixou e agarrou-se ao livro de conchinha. 08/8/2020

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Nesta foto está David, por volta de 45 anos, 5 filhos, o mais velho com 22, a caçula com 6. Daqui a 16/17 anos ele vai emigrar para o Brasil, já que a sua família será expulsa do Egito mas, no momento, ele está em Alexandria num recinto para onde onde os homens vão depois do trabalho pra jogar gamão e fumar Narguilé. A casa de David é um salseiro, sempre cheia de gente, filhos, netos, agregados, parentes, melhor sair de lá pra ter sossego. David é o avô de Mané e, ao olhar pra foto, ele se pergunta o que será que fumava vovô? Tinha que ser uma coisa bem forte pra voltar pra casa e manter a família com a retidão que dizem que mantinha. Mané teve contato com ele até os 5 anos, depois ele sucumbiu a uma diabetes mal tratada ou quem sabe não suportou a amargura da imigração. Todo dia de manhã, Mané subia no espaldar da poltrona onde ele estava sentado tomando café turco preparado por Rachel e, com essa máquina, o avô lhe pedia para que lhe cortasse o cabelo. Mané ria e respondia ao avô que ele não tinha cabelos, era careca como uma melancia. Mas o avô insistia, sempre se acha algum fio, e Mané escalava o ombro dele e gastava um tempo tosando o cocoruto limpo e brilhoso do avô. Fosse hoje Mané ia achar que o avô estava tendo um efeito retardado daquilo que fumava no narguilé. Sara, a mãe de Mané e filha caçula de David garante que não se fumava nada de extraordinário naquele local (a não ser um tabaco com cheiro adocicado...) e que o pai dela não era dado a dar tapas na pantera. Pode ser mas o que é que sabemos da vida intestina das pessoas? Lendas familiares e lembranças, com o tempo, vão ficando esfumaçadas.07/8/2020
Mané na rôtisserie. Tem carne louca? Tem! Me da uma por favor. Grande ou pequena? Grande e me da também uma torta de palmito, uma de frango, umas 500 gramas de caponata, um pão italiano e esse vinho, quanto é? X reais! Vai pagar como? Dinheiro. Aqui, obrigado! Salma n’a rôtisserie. Oi, bom dia! Bom dia! Como vc se chama? Xxxxx! Ah, ta, xxxx, tem carne louca? Tem! Em embalagens de que tamanho? Tem a grande de 1kg e a pequena de 500g! Ah, não tem uma de 750g? Não, mas se a sra quiser eu monto. Ah, não sei se levo 750 ou 800g. zzzzzzz Então me da duas de 500! Não, pode ser uma de 1kg. Ok, aqui estão. Como vc prepara a carne louca? Bem, ela é selada, depois a gente junta.....................................e.............,,,,,,,,......, daí voce deixa marinando por............................ Aí, que delícia, pode congelar? Pode! Ah, então me da uma de 1kg e uma de 750g. Ok! É você mesmo que faz? É meu irmão, que está lá dentro. Ah, vcs trabalham juntos? Yyyyyyyyyy, vem cá! Olá, bom dia! Então vc cozinha e ele vende? Isso, às vezes vem minha mãe, essa rôtisserie e dela mas com a covid, nós assumimos. Ah então as receitas são dela? Na verdade são da minha avó! Ah, e o seu pai? Na verdade a rôtisserie é do meu pai e da minha mãe! Ah, e agora vcs assumiram, que legal! Sua conta! Mais alguma coisa? Hmmm, deixa eu ver. Tem caponata? Ihhh, acabou, vou ficar devendo. Ah, que pena é uma delícia com um pãozinho né? Aquele senhor ali no carro verde que está buzinando e acenando é com a senhora? Ah, é meu marido, deixa eu ir porque ele está em fila dupla e eu prometi não demorar. Quanto foi mesmo? Aqui, uma de 1kg e uma de 500g. Eu não tinha pedido uma de 1 e uma de 750? Um minuto que eu preparo. Ah tudo bem, ele vai me matar, levo essas mesmo, quanto é? Xxxx reais. Aceita cartão? Aceito. Pode ser no crédito? Pode. Aqui. Hmmm, a máquina recusou. Ai, eu pus a senha do cartão de débito. De novo. Pronto. Passou, obrigado. Obrigado, lembranças a sua mãe. Serão dadas. Já to indo, para com essa buzina.06/8/2020
Salma estava grávida de 8 meses. Em poucas semanas Samira entraria em cena, a tensão era grande. Para desanuviar foram jantar com um primo numa cantina que tinha um daqueles chefs premiadíssimos. No caminho o primo foi avisando que conhecia a figura e que ele era muito temperamental e Mané perguntou porque comer num restaurante cheio de frescura, “vamos a um rodízio de carne”. Todos estavam rindo quando se sentaram à mesa e Mané pediu as bebidas e o cardápio. O garçom ficou impassível e o primo deu um chute em Mané por baixo da mesa para que ficasse quieto. Mané não entendeu mas ficou quieto e pouco depois chegou à mesa o tal chef. Ruggero cumprimentou o primo calorosamente e meneou a cabeça para Mané e Salma. Depois de um curto lero-lero, Ruggero disse que o lindo casal grávido iria comer Bucatini al pesto e o primo foi brindado com um orechietti de caju com bisque de camarão. Com um floreio decretou, “para beber, um passobianco terre siciliano” e retirou-se dramaticamente. Mané perguntou “que porra é essa” e o primo apavorado lhe disse que ali era assim, o chef escolhia o que iam comer e beber e que Mané ficasse mudo e comesse pois a comida era espetacular. Comeram, beberam, gastaram uma fortuna e logo Salma, cansada e pesada, quis voltar pra casa. A comida era muito boa mesmo mas Mané saiu do restaurante com fome. A uma semana do parto, Salma ficou com vontade de comer Bucatini al pesto, aquele Bucatini. Mané achou que ela estava brincando mas acariciando a barriga Salma disse que estava falando sério. Mané então foi até o restaurante e pediu diretamente ao Ruggiero que fornecesse o prato, afinal a mulher grávida, etc. Ruggiero ficou vermelho e disse: “Chi pensi che io sia? pensi di venire qui e prendere il mio piatto in una scatola di pranzo? ancora di più un Bucatini al pesto in modo che arrivi alterato in casa tua e inizi a parlare male della mia cucina? basta andare via!” Mané saiu atordoado mas sua preocupação era o desejo de Salma, então resolveu passar na cantina do Generale e pediu um spaghetti al pesto. Quando pôs a comida para Salma ela reclamou que não era Bucatini e Mané respondeu: “ah tá, você não lembra daquela peça? O chef entregou o que quis e eu ainda recusei o vinho”. Salma comeu com gosto e, no dia seguinte, Samira veio à luz.04/8/2020
Mané foi ontem comprar uma cama pra casa nova de Samira que está radiante porque vai começar a brincar de casinha. No fim compraram cama, colchão e uma mesinha de quatro lugares classe econômica. Na ida tinham passado na frente de um starbucks e Samira ficou o tempo todo desejando um cappuccino de lá, daqueles servidos num balde. Após a compra, para comemorar, Mané resolveu atender ao pedido dela e foram até o starbucks que ficava numa rua movimentada do Paraíso. Tiveram dificuldade pra parar o carro então Mané optou por pagar 15 paus e parar num estacionamento que permitisse trancar o carro, ninguém quer que um manobrista infecte o veículo. Estacionados, foram sedentos até o starbucks onde, na porta tinha um menina antipática que os impediu de entrar dizendo que fechava às 15. Mané olhou o celular e viu que eram 15:04 e jogou um charme pra moça dizendo que era só um cafezinho, etc. Não colou. Os olhos de Samira ficaram marejados e então a moça disse que poderíamos pedir pelo aplicativo. “Peço pelo aplicativo e retiro”? E a moça: “não, você pede pelo aplicativo, espera o motoqueiro vir retirar e pega com ele”. Mané pensou não ter entendido e disse pra moça que aquela era a coisa mais idiota que ele tinha ouvido na pandemia, bem, não, na pandemia, não, mas era muito imbecil aquela ideia. Ela respondeu zangada que sentia muito mas tinha uma loja no shopping que abria às quatro, eles podiam ir pra lá. Mané estressou e falou que ela podia ficar com o café dela e virou-lhe as costas para ir embora. Ficou esperando na calçada e às 15:20, como os outros estavam demorando, voltou para ver o que ocorria e deparou-se com Salma e Samira dentro da loja fazendo o pedido. Anuar lhe disse que depois que ele se foi, a moça, vendo lágrimas nos olhos de Samira, permitiu a entrada mas “não daquele senhor”! Pouco depois a família sentou num banquinho e tentaram dar cabo daqueles dois lattes, um capuccino e um saco de pães de queijo. Samira sorveu seu sonho de consumo até o fim, Salma e Mané, que nem gostam muito de starbuck, jogaram fora 2/3 dos lattes. A quantidade de leite ali poderia alimentar um bezerro por dois dias. Anuar chacinou os pães de queijo e depois eles foram felizes pra casa.01/08/2020
Ninguém é 100% inocente menos nossos pais e avós! Será? Mané leu um livro que o fez pensar novamente naquela máxima de que todos tem pelo menos um segredo inconfessável, às vezes até para si mesmo. E se os seus pais e avós passaram parte da vida aprontando todas e depois, na hora de criar os filhos tornaram-se esses seres angelicais e certinhos que achamos que conhecemos? Mané pensa na própria vida, o que será que sabem da vida dele Anuar, Samira e Salma? Você põe a mão no fogo por você? Mané põe, mas... Na foto estão Rachel, 14 e David, 21 no dia do seu noivado em 1917. Casaram em 1918, tiveram 5 filhos que lhes deram 11 netos e mais de 20 bisnetos. De David, Mané pouco sabe mas, A menina-avó de Mané, com essa carinha de anjo, mandou o quanto pôde na família, levava tudo na rédea curta e era boa de briga, uma mulher ferina. Certa vez roubou uma guloseima no supermercado porque tinha acabado o dinheiro e Mané estava fazendo birra. Fumava cigarros Minister e deixava Mané criança dar umas baforadas pra ele “ver como era ruim”. O que mais teria ela aprontado? O que é que você fez que ninguém sabe, hein?
Para desgosto do pai, Mané não é religioso, nunca foi. Houve um momento que Mané trilhou outro caminho e nunca mais voltou. Mané ficou observando mas não se tornou “observante”, como dizem e manteve uma relação peculiar com Deus, na verdade um tratado de não agressão e, por ter nascido numa família judaica, seu interlocutor é o Deus dos judeus. Quando aos 18 esteve pela primeira vez no Muro Ocidental, o das lamentações, Mané se pôs a colocar bilhetinhos com pedidos nas pedras em nome da avó, dos pais, da irmã, dos gêmeos recém nascidos, de amigos e até da namorada católica que tinha deixado no Brasil. Quando ia indo embora sentiu-se insatisfeito, não tinha pedido tudo que queria pra Ele, então voltou, pegou outro papel e escreveu com letra caprichada: “surpreenda-me” e colocou no fundo de um buraco nas pedras. Tempos depois descobriu que de vez em quando aqueles papéis são todos retirados e ganham um destino incerto o que foi um pouco decepcionante para Mané, será que Deus tinha tido tempo de ler os bilhetes antes de serem retirados? O pedido de Mané, um arroubo juvenil e desafiador, surtiu resultado no entanto. Mané tem sido surpreendido ao longo da vida. Deus tem cumprido a vontade de Mané positiva e negativamente. E cada surpresa: imaginem que Mané até escreveu três livros depois de ter sido péssimo aluno, repetir de ano duas vezes e bombar por causa da redação no vestibular da USP. Graças a Deus. Mané não vai falar das coisas ruins, mas quer usar o Facebook, porque não dá pra ir até o Muro, para lembrá-Lo de que o tratado é de “não agressão” e que Ele não precisa ficar se superando, como vem fazendo neste 2020. !דיינו
Sabemos que não é o que parece mas Mané foi uma criança frágil. Até o final da adolescência sobressaltou a família com episódios que denotavam grande vulnerabilidade na área da saúde. A principal preocupação de sua mãe era a bronquite asmática que o acometia. A mãe de Mané era tão preocupada que, mesmo estando na praia, caso batesse um ventinho, ela fazia Mané vestir um pull-over e sapatos para não molhar os pézinhos. Sempre tem vento na praia. Tinha crises de falta de ar e comumente precisava ser socorrido, sua mãe perdeu a conta das noites que teve de passar ao seu lado até o oxigênio voltar a circular pelas vias aéreas de Mané. Até hipnotismo usaram para tentar curá-lo mas, nada. Quem dava o alarme era Farida, sua irmã, de pronto corria a chamar sua mãe: “ele está sufocando”, e lá vinha ela com um comprimido de Franol que era enfiado em Mané garganta adentro, o ar não passava mas o Franol, sim! Depois ela permanecia ao seu lado embalando-o no peito, até o menino voltar a respirar e se acalmar. Aos 18, apesar do fato de que as crises tinham melhorado muito, quando Mané resolveu passar um ano em Israel, sua mãe o fez levar Franol suficiente para passar o ano. Eis que, talvez porque a viagem tenha sido para a Terra Santa, ao cabo da experiência, Mané voltou pra casa com todas as caixas de Franol fechadas. Não teve nenhuma crise no Oriente Médio e não teve mais nenhuma crise na vida. Mané caiu na besteira de contar essa história para Salma e esta, depois de escutar com atenção disse que não queria fazer nenhuma avaliação precipitada, que ele tinha que trabalhar isso numa terapia mas ela achava que a mãe dele o sufocava, não mecanicamente por óbvio, mas, de forma figurada que fique claro. 25/07/2020