sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Para desgosto do pai, Mané não é religioso, nunca foi. Houve um momento que Mané trilhou outro caminho e nunca mais voltou. Mané ficou observando mas não se tornou “observante”, como dizem e manteve uma relação peculiar com Deus, na verdade um tratado de não agressão e, por ter nascido numa família judaica, seu interlocutor é o Deus dos judeus. Quando aos 18 esteve pela primeira vez no Muro Ocidental, o das lamentações, Mané se pôs a colocar bilhetinhos com pedidos nas pedras em nome da avó, dos pais, da irmã, dos gêmeos recém nascidos, de amigos e até da namorada católica que tinha deixado no Brasil. Quando ia indo embora sentiu-se insatisfeito, não tinha pedido tudo que queria pra Ele, então voltou, pegou outro papel e escreveu com letra caprichada: “surpreenda-me” e colocou no fundo de um buraco nas pedras. Tempos depois descobriu que de vez em quando aqueles papéis são todos retirados e ganham um destino incerto o que foi um pouco decepcionante para Mané, será que Deus tinha tido tempo de ler os bilhetes antes de serem retirados? O pedido de Mané, um arroubo juvenil e desafiador, surtiu resultado no entanto. Mané tem sido surpreendido ao longo da vida. Deus tem cumprido a vontade de Mané positiva e negativamente. E cada surpresa: imaginem que Mané até escreveu três livros depois de ter sido péssimo aluno, repetir de ano duas vezes e bombar por causa da redação no vestibular da USP. Graças a Deus. Mané não vai falar das coisas ruins, mas quer usar o Facebook, porque não dá pra ir até o Muro, para lembrá-Lo de que o tratado é de “não agressão” e que Ele não precisa ficar se superando, como vem fazendo neste 2020. !דיינו

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