terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Mané acordou as 6:15 para ir ao parque mas ao colocar os pés no chão sentiu preguiça e desejou que estivesse chovendo. O ambiente estava úmido mas chuva não tinha e Mané lamentou a sua sorte e por isso, depois das abluções ele se pôs a trocar de roupa, shorts, tênis, camiseta e enquanto isso fez conjecturas a respeito da gravidade do fato de já estar com preguiça, mal o ano começou. Mentalmente Mané fez uma lista das preguiças que sentia, Mané não quer marcar o retorno aos médicos, não quer fazer a revisão do carro nem conferir o saldo bancário, não quer acessar o app para pagar contas e tampouco trabalhar. Ontem à noite Mané sentiu preguiça de comer e de tomar banho, de falar ao telefone, de responder whatsapp. Ouvir as estripulias dos nossos políticos então, tem lhe dado coceira. Mané está com preguiça de terminar o livro para não ter que começar outro e hoje de manhã, quando terminava o xixi, Mané teve preguiça de dar as três balançadinhas tradicionais para esgotar o fluxo. Mesmo assim ele as deu e quando percebeu que seriam necessárias outras três, desistiu e legou à cueca o restante da tarefa. Mau sinal. 30/01/18
Dia meio nublado, depois de muitos anos, Mané colocou o pé na praia das pitangueiras, bem ali embaixo do morro do Maluf, e seguiu com Salma e Anwar em direção ao pontão do edifício sobre as ondas. Temperatura agradável, praia cheia e as lembranças vão voltando conforme os lugares aparecem, trazendo de volta inúmeros verões [e invernos] passados desde a infância até quando nasceram os filhos. Os três caminharam com vagar pela praia toda, evitaram pisar na água que correm por aqueles canais que dizem ser de águas pluviais, tomaram água de côco, comeram sorvete e milho verde e fizeram o caminho de volta até a barraca montada perto do prédio. Mané sentiu saudades do pai, da tia, de amigos que não sabe mais onde andam [de alguns até sabe, mas sentiu saudade mesmo assim] e quando sentaram nas cadeiras Salma falou: “fomos e voltamos, uma hora de caminhada e não encontramos um conhecido sequer. Antigamente não era assim, onde foram parar as pessoas”? E Mané, que vinha pensando na mesma coisa, esticou o olhar para o horizonte infinito: é ali que as pessoas estão. 14/1/2018

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Saindo da Vila Mariana, Mané está singrando com leveza pelas tranquilas ruas da capital. O farol fica vermelho, Mané, que está escutando uma música do Aeromsith, para atrás de um carro preto que tem uma mulher ao volante. O farol abre e o carro à frente não se mexe. A moça está ajeitando o cabelo e Mané sente vontade de meter a mão na buzina mas apenas aguarda paciente, afinal hoje é só dia 4. Depois de uma eternidade ela finalmente anda e Mané vai atrás. Três quarteirões adiante, fecha novamente o farol. A essa altura tocava uma música dos Beatles. O farol fica verde de novo e a moça não anda, agora ela está observando as unhas. E ajeita o rabo de cavalo mais uma vez e depois acelera. Mané tranquilão, vai atrás, perguntando-se porque não buzina pra moça quando o farol fecha mais uma vez. E mais outra e outra ainda e em nenhuma das vezes a moça andou quando devia assim como Mané não buzinou como seria esperado. Na avenida Paulista Mané para ao lado dela ao invés de atrás pois está curioso de ver a pessoa que persegue há 5 km. Abre a janela e se depara com uma jovem bonita, mas ela não percebe que Mané está olhando porque examina o interior da sua bolsa. Nisso o farol abre e imediatamente ecoam as buzinas. A moça tem um sobressalto e, virando-se pra Mané lhe diz: “ai que gente histérica, não podemos nos distrair nem um segundo”, e sorri de forma cúmplice para Mané, que afinal também está parado interrompendo o trânsito. Mané devolve o sorriso e acelera, um segundo antes de ser ultrapassado por um motorista furioso que o chama de velho babão e “se aquele era um lugar pra dar encima das meninas”. Mané pensou “que gente histérica, não podemos nos distrair nem um segundo”. Mané continuou atrás da moça e mais à frente foi à esquerda, para a Heitor Penteado e ela, que buzinou a título de despedida, foi à direita, para os lados da Alfonso Bovero. 04/01/2018
O momento em que a banana fica mais doce é bem pouco antes de apodrecer. Pense nisso!01/01/2018