sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Nesta foto está David, por volta de 45 anos, 5 filhos, o mais velho com 22, a caçula com 6. Daqui a 16/17 anos ele vai emigrar para o Brasil, já que a sua família será expulsa do Egito mas, no momento, ele está em Alexandria num recinto para onde onde os homens vão depois do trabalho pra jogar gamão e fumar Narguilé. A casa de David é um salseiro, sempre cheia de gente, filhos, netos, agregados, parentes, melhor sair de lá pra ter sossego. David é o avô de Mané e, ao olhar pra foto, ele se pergunta o que será que fumava vovô? Tinha que ser uma coisa bem forte pra voltar pra casa e manter a família com a retidão que dizem que mantinha. Mané teve contato com ele até os 5 anos, depois ele sucumbiu a uma diabetes mal tratada ou quem sabe não suportou a amargura da imigração. Todo dia de manhã, Mané subia no espaldar da poltrona onde ele estava sentado tomando café turco preparado por Rachel e, com essa máquina, o avô lhe pedia para que lhe cortasse o cabelo. Mané ria e respondia ao avô que ele não tinha cabelos, era careca como uma melancia. Mas o avô insistia, sempre se acha algum fio, e Mané escalava o ombro dele e gastava um tempo tosando o cocoruto limpo e brilhoso do avô. Fosse hoje Mané ia achar que o avô estava tendo um efeito retardado daquilo que fumava no narguilé. Sara, a mãe de Mané e filha caçula de David garante que não se fumava nada de extraordinário naquele local (a não ser um tabaco com cheiro adocicado...) e que o pai dela não era dado a dar tapas na pantera. Pode ser mas o que é que sabemos da vida intestina das pessoas? Lendas familiares e lembranças, com o tempo, vão ficando esfumaçadas.07/8/2020

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