sábado, 2 de dezembro de 2006

Um dia na vida - quarto fragmento - 7:04

A moça da chapelaria saudou-me animadamente enquanto eu lhe entregava o agasalho e lhe recomendava que o pendurasse e não o dobrasse, pois havia as chaves do carro e de casa no bolso e eu temia que as mesmas caíssem causando-me transtornos na hora de ir embora. Ela apenas sorriu compreensiva e desejou-me um bom treino e eu imaginei o que poderia haver de bom naquilo, mas de qualquer forma agradeci e ao mesmo tempo resolvi solapar os dez minutos de aquecimento dirigindo-me sem delongas à sala de musculação, onde solicitei ao professor que me auxiliasse a extrair do computador o treino daquele dia. Fui brindado pelo sorriso amarelo do sempre atencioso professor plantonista daquele horário, um jovem com algo entre 23 e 25 anos, musculoso e atarracado, que chama a parte da frente do meu braço de bíceps e a de trás de tríceps. Presenteou a minha fria manhã com um treino de pernas e ombros, de forma que eu me dirigi para o primeiro aparelho de tortura, chamado de cadeira extensora, onde devo ficar levantando com a planta dos pés, um determinado numero de lingotes de ferro, cada um deles pesando sete quilos. Olhei desconfiado quando o professor que me perseguia pela sala ajustou o numero de lingotes em dez, o que significava que eu teria que levantar setenta quilos, coisa que eu duvidava poder fazer. Para não dar vexame iniciei a primeira serie daquele jeito mesmo e logo na terceira levantada senti os músculos do quadríceps começarem a queimar e arder e devo ter feito uma careta, pois percebi a cara de satisfação do professor que me disse “que quanto mais ardesse melhor” e eu não me esqueci de mandá-lo à merda em pensamentos, mas continuei assim mesmo. Quase no fim da primeira série de quinze levantadas fui salvo pela chegada de uma moça de peitos salientes que chamou a atenção do professor, tendo este ido em sua direção imediatamente. Aproveitei a oportunidade para diminuir o peso em dois lingotes, ou seja, diminui a minha carga para 56 quilos, e rezei para que a mocinha entretivesse o professor por muito tempo e que ele não voltasse para o meu lado, coisa que não é muito rara nestas situações. O fato é que a sala de musculação estava muito vazia. Além da minha pessoa estavam apenas a tal mocinha que tinha acabado de chegar e que neste momento roubava as atenções dos dois plantonistas do horário, um rapaz super musculoso que treinava sozinho e que não precisava nem queria a atenção de ninguém, uma moça magrinha, aparentemente maratonista, que estava acompanhada do seu personal trainner ao lado de um aparelho que eu teria que usar daqui a pouco, contando uma história interminável sobre uma festa de ontem à noite, uma moça gordinha fazendo de forma errada um exercício que deixava a sua bunda levantada de uma forma ridícula e ninguém lhe falava nada e uma outra mulher, da minha idade na certidão de nascimento mas portadora de algumas particularidades interessantes. Seu rosto tinha sido muito esticado para cima e para os lados, conforme ela mesmo me confessara certa vez, mas nem precisaria, o que lhe conferia uma idade indefinida e uma leve aparência de lagarto. Quem olhasse só na direção do seu tórax juraria que ela não tinha mais do que 30 anos ao se deparar com o esplendoroso par de seios que portava. Duros e firmes, olhando para cima e para os lados, comprimidos dentro de um top dois números menores do que a prótese de silicone que ela tinha comprado e implantado entre as costelas. A sua parte de baixo ainda estava comprometida. Tinha muita pele caída e não consegui definir direito o que ocorria ali. Uma olhadela conferiria à pessoa uns 70 anos de idade, o que na média lhe daria os mesmos 50 que ela tinha de verdade. Perdido em meus devaneios quase não percebo a aproximação do professor que vinha conferir o andamento do meu treino e espantei-me quando ele incentivou-me com um “é isso aí” quando eu, às 7:24hs, terminava a primeira parte do treino e sentava num aparelho justo entre a mocinha bonita, a detentora das atenções de todos, e a outra senhora, que tentei descrever acima. Enquanto secava o suor do rosto falei: “bom dia meninas” e recebi como resposta um meio sorriso simpático da mocinha e um “obrigada pelo meninas”, da outra senhora. Logo me concentrei naquela atividade absurda de puxar e esticar coisas pesadas e nem sequer respondi senão com um pequeno aceno de cabeça quando a senhora resmungou qualquer coisa a respeito do frio que fazia e de que reclamaria da falta da atenção dos professores daquele horário. Ao levantar-se perguntou-me se eu ia subir para o aeróbico e eu disse que sim. Às 7:34hs eu me aproximei novamente da garota bonita para fazer o meu último aparelho. Pensei no que será que fazia da vida, quantos anos tinha e quais eram seus sonhos. Imaginei se gostava de toda aquela atenção que recebia, se gostava de ler, se era tímida, se comia verduras, se gostava de baladas, se dava-se bem com seus pais, se tinha irmãos, namorado, etc. E depois, quando o professor afastou-se dela, às 7:35hs, eu a encarei e perguntei quantos anos tinha, ao que ela respondeu que faria 28 dali a 15 dias. Pouco depois ela me disse estar surpresa de eu ter perguntado alguma coisa para ela, pois me via na academia há muito tempo e nunca tinha me visto falar com ninguém e que achava que eu tinha cara de muito bravo. Eu dei uma risada e disse a ela que essa era a coisa que mais escutava de estranhos. Às 7:38hs, terminei a musculação e, depois de acenar para o professor, subi para fazer bicicleta.

Continua...

Um comentário:

Anônimo disse...

Também escuto a CBN... mas qdo o trânsito tá sem trânsito mudo prá Nova Brasil FM e tento me alienar.... fico cantando sòzinha no carro, fingindo já estar no tão ansiado chuveiro... ou então quando eles começam a falar de futebol.... Juca Kfouri e etc.... arghhhh Você deve gostar, né? eu prefiro ouvir pagode.... rsrsrs Vou continuar esperando ansiosamente suas crônicas.... e não esqueça: sempre vou assinar meus comentários.... Beijos