sábado, 9 de novembro de 2013

Meu pai, órfão de mãe aos 6 meses de idade, foi criado por tios e tias, já que naquela época era impensável um homem ficar solteiro ou criar um filho sozinho. Não se sabe ao certo porque a madrasta não o criou, mas o fato é que a família o acolheu de alguma forma e, traumas a parte, meu pai foi educado, sempre se deu muito bem com seus meio-irmãos, criou uma família e “La nave vá...” Até o início da adolescência vivi numa família de imigrantes e que devido à necessidade, moraram juntos em alguma época da vida, duas, três famílias no mesmo apartamento de 2 ou 3 quartos, passavam férias coletivas em Praia Grande e São Vicente, todos os netos sob a guarda dos avós ou tios. Na adolescência, primos vinham passar férias nas nossas casas ou vice-versa, namorados se aboletavam no quarto e sala de veraneio da família e não consigo me lembrar de nenhum dissabor serio em virtude deste ajuntamento. O que significa isso? Significa que havia um sentido de solidariedade e amizade às pessoas próximas e/ou consanguíneos. Havia um sentido para a palavra família e essa filosofia suplantava crises e desentendidos, até os políticos ou religiosos, no fim das contas eram pessoas com as quais se podia contar com boa vontade e até mesmo com certa dose de má vontade. Hoje tudo isso não existe mais. Somos ilhas até mesmo no núcleo familiar pequeno, cada qual sentado na frente do seu computador, às vezes mães mandando recados para os filhos no facebook. Você convida ou é convidado para ir à casa de primos que se tornaram pouco mais que conhecidos. A casa do seu irmão, já não é mais tanto assim a sua casa e não raro você topa com desconhecidos naquelas festas em que por acaso seus familiares de primeiro grau se cruzam. Sinal dos tempos, afinal nós progredimos. Aqueles ajuntamentos familiares eram por necessidade, porque éramos pobres e se não fosse assim, nem férias teríamos. Agora temos casa em Atibaia e na Baleia, assim como tivemos apartamentos no Guarujá. Pais viúvos passam a morar em companhia de domésticas ou vão para um asilo. Damos dinheiro para parentes falidos, mas não um prato de comida, muito menos uma cama. Filhos determinam hora para os avós visitarem os netos e as férias, bem, não existem apartamentos comunitários em Nova York. Pobres velhos. Pobres de nós que estamos ficando velhos. Pobres dos que vão envelhecer em duas décadas e pobres dos que estão nascendo agora. Vão ficar a ver navios, vão bradar palavras ao vento, vão enxugar gelo...acordem! 22/01/2013

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