sábado, 28 de janeiro de 2017

40 anos atrás, num dia como esse de novembro, Mané andava pelas ruas escaldantes do centro de São Paulo, engolido pela burocracia necessária para conseguir seu passaporte. O astro-rei queimava onipresente, o suor brotava por todos os poros do seu corpo, mas o objetivo era nobre. Mané ia viajar, passar um ano fora de casa. Com os miolos fervendo Mané saia e entrava de repartições, bancos e ônibus. A ponto de desistir, já pelo fim da jornada, Mané viu o céu escurecer e a tormenta que se avizinhava desabou sobre sua cabeça deixando-o ensopado, cabelo grudado na testa, roupa colada no corpo e sapatos chapinhando. O fim de tudo? Não, Mané aproveitou-se da chuva, esfriou a cabeça, revigorou-se com o refresco dos céus e terminou o seu trabalho com energia renovada sentindo também certo prazer em ensopar as repartições enquanto esperava nas filas. Dias atrás, 40 anos depois, Mané encontrava-se na mesma situação, quando, num dado momento Mané olhou pro céu e viu algumas nuvens se formando no horizonte. Mané desejou que aquelas nuvens se transformassem num pé d´água e que tudo desabasse sobre ele, que tudo esfriasse e ficasse molhado e Mané fechou os olhos e esperou que a água viesse abaixo e...nada aconteceu. Sinal dos tempos. Também, nem teria assim tanto cabelo pra grudar na cara e andar pela cidade com a roupa e os pés molhados...sei não, vai que dá um friagem que acaba virando pneumonia, enfim! 26/11/2014

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