sábado, 28 de janeiro de 2017
É final de tarde, Mané acaba de ler o último parágrafo do livro. Cansado pela intensidade da história, fecha o livro com estrépito e vai até a sala onde estão seu filho e sua esposa. Salma está deitada de lado no sofá, uma almofada sob o pescoço e outra entre os joelhos e ressona suavemente. Mané observa por alguns segundos o perfil levantino da mulher e propõe uma volta pelo bairro, já que não choveu, “o cachorro precisa andar um pouco, o bicho está ficando meio gordo”. Salma levanta de supetão e, sonada, informa que estivera tendo um sonho horrível que Mané a arrastava para um lugar que ela não queria ir, que ela pedia socorro e ninguém acudia e então Mané falou pro filho, “vamos, a mamãe não quer passear com o cão”. Mas Salma foi. Ao passarem pela padaria o filho quis pão de queijo e Mané prometeu que compraria na volta, mas, de soslaio, Mané viu um cartaz apetitoso que anunciava um picolé de edição limitada, “Magnum Petit Gateau, 9,80”. Mané que já não enfrenta com galhardia um picolé daquele tamanho propôs a Salma que ela degustasse o tal picolé e lhe desse uma ou duas mordidas. Salma, ainda acordando respondeu de mau humor se a intenção dele era cevá-la até que ela ficasse gorda como uma porca. Mané disse que apenas queria uma ou duas mordidas do sorvete que ele lhe oferecia, “mas vemos isso na volta”. Foram a passeio, conversaram sobre amenidades, sobre o fim da paz na Vila Madalena devido à proximidade do carnaval, Milu defecou e mijou, primeiro mijou de pois cagou e não mais que de repente se viram novamente à porta da padaria onde Mané entrou e voltou de lá de dentro com 120 gramas de pão de queijo e um sorvetão Magnum Petit Gateau que gentilmente ofereceu ao filho e à mulher nessa ordem. Seguiram vagarosamente pela calçada e Salma, mais do que depressa, rompeu o invólucro da guloseima e se pôs a morder grandes pedaços. Mané que ia à frente com o cão nada disse, mas ficou esperando que Salma lhe oferecesse e como essa não o fez, retrocedeu alguns passos para se juntar à ela e percebeu alarmado que o sorvete já ia pelo fim. Com a boca cheia, Salma disse que o sorvete era uma delícia, se ele queria uma mordida e ele disse que sim. Então ela colocou o resto do sorvete na boca, engoliu o último bocado, aproximou-se de Mané e depois de lhe dar uma leve mordida no lóbulo da orelha cochichou-lhe “se eu ficar balofa saiba que a culpa é sua”.28/01/2017
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