sábado, 28 de janeiro de 2017

Imaginem que Mané se encontra num cruzamento de duas daquelas ruinhas da Vila Madalena onde passam carros nos dois sentidos, tem carros estacionados dos dois lados e onde, ainda por cima, circulam por ali diversas linhas de ônibus. Imaginem que estamos num sábado á tarde, momento propício para o lazer ou para adiantar alguns assuntos daqueles que te aprisionam perpetuamente, fazer um supermercado, comprar um presentinho, levar alguém pra algum lugar ou fazer uma visitinha pra algum parente doente. Imaginem que Mané já fez tudo isso e que no momento só anseia voltar pra casa e deitar na cama com...um bom livro, aquele que ficou interrompido antes de se iniciar a saga sabática vespertina. Mané está a 50 metros da garagem do seu prédio, pra onde ele olha há carros, há gente tentando atravessar a rua, há ônibus tentando virar a esquina sem tomar de roldão aqueles carros que ficaram estacionados na esquina. Chove, as pessoas buzinam dentro dos carros, não parece haver solução para o nó. A passo de cágado, o carro de Mané é o segundo na fila do farol e este aguarda ao volante a ponto de explodir. O farol abre, o carro da frente passa, o farol fecha. Mané tem que virar à esquerda quando abrir o farol. A fila na mão oposta onde está Mané esta parada faz tempo. Mané espera que quando o farol abrir os caras não avancem, caso contrário fecharão o cruzamento e Mané não poderá entrar à esquerda e alcançar seu prédio que esta ali a 50 metros. O farol abre, Mané pisa no acelerador e esterça mas tem a sua passagem interrompida quando o primeiro carro da fila do outro lado acelera mais rápido, para no meio do cruzamento e interrompe o fluxo de carros em toda as direções. O cara percebe a merda que fez e pede pra Mané da ré para ele poder manobrar, mas Mané não tem uma alma nobre. Mané olha pra ele e lhe diz “foda-se” e coloca o carro na posição P e olha para o outro lado no aguardo dos acontecimentos. O desafeto se desespera e tenta manobrar o carro e a cada movimento se enrola mais e o ambiente no cruzamento começa a ficar explosivo. O cara fica completamente cercado e torto na rua, provavelmente nunca mais vai poder sair de lá. Quando o farol abre e o cara não podendo mais se mexer, Mané da uma rézinha e escapole feito um poltrão deixando pra trás muita ira e indignação. Dentro do carro, a esposa de Mané lhe lança olhares de reprovação, mas não fala nada. Talvez voltem a falar sobre isso quando o ambiente desanuviar. Ou não! 05/06/2016

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