sábado, 28 de janeiro de 2017

Mané e Amadeu estão no banheiro há doze minutos. Mané observa Amadeu que observa a torneira com suas entranhas expostas. O registro foi fechado então depois de 18 meses, a torneira de água fria do banheiro de Mané, finalmente parou de pingar. Amadeu coça a cabeça e murmura coisas ininteligíveis. Mané começa a ficar nervoso e coça a cabeça também. Amadeu balança a cabeça de um lado para outro e troca o pé de apoio. Depois de dezoito minutos Amadeu diz: “sei não”! Mané, ainda sem se exasperar pergunta delicadamente, “sei não, o que?” Amadeu então lança pra Mané um olhar bovino e lhe diz que dessa borrachinha não se vende mais. O modelo da torneira é antigo, velho pra ser mais exato e “se for achar esse courinho, só lá embaixo”. Onde lá embaixo?, se desespera Mané; Pra depois do largo, diz Amadeu. Que largo? Depois de mais uns segundos de silêncio, “o 13”, diz Amadeu, “pra lá de Santo Amaro”. Mané vira as costas para sair do banheiro e reclama que não vai ir até Santo Amaro pra comprar uma borrachinha de vedação e Amadeu responde que não vai mesmo pois esse courinho, se ainda fabricar, “eles só vão vender por milhar”! Mas vou ter que comprar mil courinhos?, Mané pergunta. É como ele faz, diz Amadeu. Ele quem?, soluça Mané. O Cipriano. Mas quem é o Cipriano? É meu irmão, diz Amadeu. Desta vez é Mané que coça a cabeça e pergunta pro Amadeu se ele não pode ir até a loja do irmão e pegar dois ou três ou vinte ou cinqüenta courinhos, Mané pode até pagar como se tivesse comprado os mil...Amadeu balança a cabeça e diz que esta brigado com o irmão, que não fala com ele e não pediria nenhum favor a ele, nem por ele mesmo, muito menos pelo “dôtô”. E qual é a solução? O dôtô vai lá, vê se tem esse tipo de courinho, compra o lote, me chama de novo e “nóis troca” todos os courinhos da casa. E esses courinhos servem para todas as torneiras? Ah, não, só pros banheiros e olhe lá, preciso ver se todas as torneiras são da mesma geração. Mané se desespera e pergunta se há outra solução. Tem sim, diz Amadeu, o dôtô troca a torneira. Mané agradeceu e disse que ia resolver, “qualquer coisa a gente se fala”. Amadeu então colocou as entranhas da torneira pra dentro, religou o registro e foi indo embora agradecendo muito pelo café e pelo copo d´água. Mané acompanhou Amadeu até a porta e depois, enquanto se aliviava de um xixi olhou de soslaio para a torneira e, para sua surpresa, ela tinha parado de pingar. 26/09/2015

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