sábado, 28 de janeiro de 2017
Nessa sexta faleceu a sogra da minha irmã, D. Fani, D. Faiga, D. Feiga, isso nunca ficou muito esclarecido até hoje. Como minha irmã e meu cunhado namoram desde que são crianças, conheci D. Fani quando era muito criança. No enterro falou-se sobre ela, sobre a família que ela bravamente criou, aquilo que se fala sobre os mortos, tudo verdade, tudo muito pouco do que se pode falar sobre ela. Pode parecer estranho eu ficar aqui tecendo loas para a sogra da minha irmã, mas é claro que ela não foi só isso para nós. Pra começar D. Fani nasceu num dia 15/11, 33 anos antes do meu próprio nascimento em 15/11/1955. Meu relacionamento com ela começou num dia de chuva, quando eu voltava do Renascença já meio ensopado e tive a ideia de subir no apto onde eles moravam, na frente do Jardim da Luz, pra pedir um guarda chuva emprestado. Ela, que de mim só sabia ser o irmãozinho da namorada do filho, emprestou-me o guarda chuva não sem antes me secar e me oferecer alguma coisa pra comer e, na saída, exigiu que eu não esquecesse de lhe devolver o artefato assim que possível. Assim era a D. Fani. Além de acolhedora e generosa, era dona de uma sinceridade dolorida e até o fim da vida “infernizou” a todos com seus “tiros certeiros” e seus “aces” devastadores. D. Fani adorava a vida, ela falou isso pra mim e pra minha mulher muitas vezes quando convivemos em Atibaia e nos jantares de sexta feira na casa da minha irmã. Nunca posou de vítima, apesar dos muitos reveses da vida, preferia ficar com as suas vitórias. Topava qualquer programa, interessava-se por tudo, de política a culinária, de viagens a literatura, uma auto didata que sabia falar difícil tendo estudado pouco em escolas regulares. Nas animadas partidas de tranca, achava que éramos desanimados quando queríamos parar de jogar, ela que adorava varar as noites com as cartas na mão. D. Fani me apresentou à melhor torta de ricota que já comi na minha vida, sempre que produzia a iguaria, se eu não estivesse presente, mandava um pedaço pela minha irmã, não falhava. D. Fani sempre me pareceu uma mulher severa e forte e assim permaneceu até o fim, mesmo quando já, atrapalhada pela surdez, permanecia alheia às conversas. Mas, ás vezes, saia do seu mutismo e protestava perguntado afinal do que falávamos e quando explicávamos, ela nos surpreendia com alguma opinião ferina a respeito, sempre ligada, sempre esperta. Só tem uma coisa que D. Fani não conseguiu entender: o porque do motorista do Uber nunca lhe cobrar a corrida!! D. Fani vai deixar um buraco, mais um buraco, e vai se perfilar na minha constelação de velhinhos que eu adorava e que foram embora nos últimos tempos. D. Fani era minha gêmea, nascemos no mesmo dia e, na vida, só conheço uma mulher melhor que ela, mas não por ser melhor, e sim por ser minha: minha mãe é claro. 29/8/2016
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