quarta-feira, 12 de julho de 2017

O pai de Mané passou seus últimos sete anos de vida com seqüelas do AVC que impediam os movimentos do lado direito do corpo. Foi uma coisa penosa para ele e para os que o cercavam. Com os movimentos muito dificultados, o pai de Mané manteve, no entanto a sua sagacidade e uma mente arguta, além da sua proverbial calma e discrição e passava a maior parte do seu tempo lendo livros, jornais e mais pro fim, aventurou-se até com um iPad. A convivência com a mãe de Mané e com os inúmeros cuidadores e cuidadoras que passaram por ali naquele período, foi facilitada principalmente porque o pai de Mané era uma pessoa mansa e cordata, se é que podemos falar assim. Foi por isso que Mané estranhou, numa manhã que lá chegou para visitar os pais, os encontrar numa disputa acirrada sobre um tema que, a princípio, Mané não entendeu. Mané, que é um cara sem pavio, se viu momentaneamente na situação de tentar apartar briga e se fechou no quarto com o pai para tentar acalmá-lo, ele que costumava ser um poço de calmaria. A questão versava sobre a contratação de um novo cuidador, a mãe de Mané queria um homem, por causa da força necessária para lidar com o dia a dia de alguém que não se locomove sozinho, que precisa de ajuda para se trocar, comer, fazer higiene e etc, enquanto o pai insistia que queria uma mulher. E Mané, entendendo a posição da mãe, tentava argumentar com o pai, mas este permanecia inflexível até que em dado momento, o pai chamou Mané de lado e lhe perguntou baixinho se Mané sabia que ele precisava ajuda para tudo e Mané respondeu que sim. Então, continuou o pai, você gostaria de ter um homem passando a mão na sua bunda e bagos? Acabou que Mané convenceu a mãe, ele nem lembra como, mas eles contrataram uma mulher. 21/06/2017

Nenhum comentário: