quinta-feira, 23 de novembro de 2017
Mané reviu nesses dias uma garota que não via há 50 anos. O encontro trouxe à memória de Mané a última vez que a viu e isso ocorreu num daqueles bailinhos de antigamente onde se dançava agarradinho, na semi escuridão, luz estroboscopica girando e na vitrola o Johnny Rivers cantando do you wanna dance. Era mais ou menos assim: as meninas ficavam de um lado, os meninos do outro. No meio, a pista de dança azulada vazia, a música romântica tocando pra ninguém. Ali ao lado tinha uma mesa com alguma comida e bebida, os grupos ficavam cochichando entre si e durante algum tempo, nada acontecia. Até que um menino mais atirado cruzava a pista e seguia em direção às meninas, a eletricidade pairava no ar, as meninas tremiam dentro de seus vestidos, os meninos a espreitar o resultado da ousadia. Aos poucos outros casais rodopiavam pela pista e, geralmente, quando Mané decidia tomar alguma atitude, a música romântica acabava. Os casais se dispersavam e cada um voltava para seu canto. Rolava uma fofoca e Mané até hoje não sabe dos comentários das meninas, mas os meninos trocam informações entre si, aquela garota é dura como uma cabo de vassoura, aquela encosta a bochecha no rosto enquanto dança, aquela só fica balançando pra lá e pra cá afastada, aquela não deixa por a mão nas costas e aquela, qual? aquela de vestido azul e uma blusa branca de banlon de gola olímpica, qual?, aquela, de cabelo curtinho, ah, eu vi...ela dança muito bem, ela te agarra e afasta as pernas assim um pouco, você consegue encostar a sua perna nas pernas dela, encaixado assim. E era para Mané que o menino falava e Mané já babava pela menina de blusa branca de banlon e na próxima dança Mané foi resoluto em direção à garota e a chamou pra dançar e ela veio, de mãos dadas até o centro da pista e Mané se aproximou, mão na mão e mão nas costas e ela se aconchegou, Mané ousou apertá-la mais um pouco e ela cedeu e eles ficaram ali no meio da pista, dois pra lá dois pra cá, Mané sentindo a respiração dela na orelha, pequenas gotas de suor ali onde os rostos se encontravam e as coxas de ambos quase que entrelaçadas, aquela esfregação de enlouquecer. Depois que a música acabou a garota foi embora, o pai já buzinava na porta, vieram avisar e, desde então, Mané nunca mais a viu, a não ser na semana passada ali nos baixos da Vila Madalena quando não tiveram muito sobre o que falar e, aliás, ela até perguntou se estava tudo bem porque Mané parecia um pouco avoado, mas com uma cara ótima, parece até estar pensando numa coisa boa, disse. 23/11/2017
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