quarta-feira, 28 de março de 2018
Quando Mané tinha 18, foi passar um ano em Israel e, aliás, ainda bem que foi porque não teve outra chance de dispor desse tempo e fazer isso de novo em toda sua vida, pelo menos até agora. Mas enfim, o que Mané queria dizer era que na época, ele tinha uma namorada com quem mantinha uma relação tórrida e muito intensa e, claro, esse namoro acabou no momento em que Mané pôs os pés no avião que o levaria para a Terra prometida. Mas também não era disso que Mané queria falar. O fato é que o ano passou e Mané voltou de viagem barbudo e cabeludo, cheio de minhocas na cabeça, tinha outra vez abandonado uma namorada, desta vez em Israel e o clima era de fim de festa. Enquanto refugava para retomar suas atividades no Brasil, faculdade, estágios, família, teve ganas de rever a namorada, aquela do início que, lógico, estava a um telefonema de distância. Teve que fazer 3 tentativas, a menina não estava em casa e celular com whatsapp que é bom, não existia naqueles dias. Numa conversa recheada de emoção marcaram um encontro para dali a um dia, Mané queria na hora mas a moça não podia. Pouco antes do evento a garota liga para Mané, que estava em casa estirado na cama com um tremendo mal estar e esta lhe pergunta o que ele fazia e ele responde que estava agonizando na cama com medo do encontro de logo mais. Ela diz que também estava com medo e ele aproveita para perguntar qual era o seu temor. Ela então lhe diz que estava com medo porque tinha já outras prioridades na vida e que, caso gostasse de rever Mané, não gostaria de que essa eventual retomada lhe atrapalhasse o momento, vai saber do que ela estava falando! E Mané, do que tinha medo, perguntou e este então lhe disse que talvez devessem mesmo evitar o encontro porque o medo dele era o oposto, ele tinha medo de não gostar de revê-la e que a eventual retomada não ocorresse. Eles se encontraram mesmo assim. Mané adorou revê-la e ela, também. Divertiram-se bastante por uma tarde e um bom pedaço da noite mas essa história acabou aí.27/03/2018
quinta-feira, 15 de março de 2018
Quando tudo mais parecia ruir, Mané sempre tinha a chance de escolher um novo livro na pilha e, como num passe de mágica, as mazelas eram varridas, às vezes pra debaixo do tapete, sumiam da sua frente enquanto durasse o livro e depois sempre tinha mais um à disposição. Nesses dias Mané tomou conhecimento de um fato sobre pessoas que já foram muito próximas, fato esse inserido no contexto atual, só que não. Juiz Moro trataria direito dessa estupefação mas, de qualquer jeito, não era isso que Mané quer falar. Mané quer falar que, diante das diatribes pelas quais passa o país, diante do envelhecimento próprio, de familiares e amigos, diante de tudo de ruim que anda acontecendo, um livro sempre foi a panaceia para todos os males. Ontem, Mané terminou mais um livro que aliás não gostou, dirigiu-se à pilha e depois de meia hora procurando algo que lhe interessasse, nada encontrou. Voltou pra sala alarmado e Salma, vendo o estado em que ele se encontrava, pousou a mão na sua testa a ver se tinha febre, quis medir a pressão e como tiro de misericórdia, perguntou se Mané queria um chazinho e sugeriu que fosse deitar mais cedo. Mané se rebelou, voltou pra pilha de livros mas diz Salma que o encontrou mais tarde adormecido com os livros espalhadas pela cama que nem tinha sido desfeita e ainda reclamou que Mané estava babando num livro novinho.15/03/2018
domingo, 4 de março de 2018
Mané está no elevador com Milu descendo para o passeio matinal. Súbito, o elevador para para que entre outro passageiro. Milu fica indócil dentro de um elevador com estranhos e a maioria dos vizinhos, conhecendo essa dificuldade, evita usar o elevador quando Milu já está dentro. Essa vizinha que entra Mané não conhece e ela, abrindo um sorriso [para o cão] adentra ao apertado recinto e ele, o cão, começa imediatamente a ganir. É uma moça jovem, morena, longos cabelos pretos e lisos, trajando uma camiseta leve e um short de jeans, calçando sandálias Havaianas com strass, unhas do pé pintadas de vermelho, da mesma cor das mãos, banho recém tomado e um sorriso permanente de dentes absolutamente perfeitos [sim, para o cão]. O elevador continua a descer impassível, o cachorro geme e rosna e ela pergunta: “ele está aflito?” Mané responde com um sorriso amarelo que “o cachorro estranha a estranhos em locais muito pequenos, ele acha que o elevador é dele”, e emenda: “na verdade você representa um perigo” . E ela: “um perigo pra ele”? E Mané: “sim, também”!04/03/2018
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