sábado, 21 de abril de 2018

Matzá é o nome de uma bolacha assada sem fermentação, sem sal e sem gosto que os judeus são obrigados a comer durante as festividades de Pessach, a páscoa judaica, quando se comemora a saída dos judeus do Egito, liderados então pelo seu mentor, Moisés, tudo isso para explicar porque em todas as casas de judeus na atualidade, a essa época do ano, existe um grande estoque desse bolachão, também conhecido como pão ázimo. Ocorre que o sobrinho de Mané, Hassan, passadas já algumas semanas da festa, ainda mantinha em sua posse um pequeno volume desta iguaria e perguntou ao grupo familiar do whatsapp se algum dos membros estaria interessado no butim e, como essa comida só se come porque se é obrigado, ninguém quis. Exaltado, Hassan ameaçou jogar tudo fora e a mãe de Mané, Sara, disse que aquilo era pecado que se ele não queria o Matzá, que o desse a um pobre morto de fome. Neste sábado pela manhã, Hassan levou o pacote para casa de Sara onde já se encontrava Mané, Anuar e Salma. Todos buliram com o garoto porque entre esse dia e o dia em que ele tinha ameaçado jogar tudo fora, muito tempo havia passado e num rompante, Mané, quando se preparava para sair, pegou toda a Matzá, embrulhou bem embrulhadinho num saco e resolveu entregar para o primeiro pobre que encontrasse na rua, coisa nada difícil nesta cidade. Numa ladeira do Bixiga, Mané se depara com um pequeno ajuntamento de miseráveis, encosta o carro e pergunta se eles querem um pacotão de bolachas água e sal, que nome ele daria àquilo a esse público? Uma das pessoas, andrajosa e faminta, se acerca, pega o pacote e olha para o produto com olhar inquiridor e declara que aquilo não é bolacha água e sal. Mané, já alarmado com o ajuntamento, diz que “nãããão, é só parecido”, enquanto outros três já ao lado começam a bradar que nem sabiam se aquilo era comida, que onde já se viu dar aquilo só porque eles eram mortos de fome e quando Mané começou a achar que tinha entrado numa fria, soou uma voz alta de mulher lá de trás: “calem as bocas, ignorantes!” Todos se voltaram para a mulher negra e alta que continuou: “isso aí é pão judeu, o pão que deus deu aos escravos para fugirem no deserto, vocês são muito burros, isso aí é comida sagrada”! Os ânimos começaram a se acalmar e Mané já estudava um jeito de se escafeder quando um menino que já mordiscava um pedaço do Matzà se acercou da janela de Mané e lhe disse que a comida podia ser sagrada, mas era ruim pra caramba, se Mané sabia o que fazer para melhorar o gosto daquilo e Mané, já acelerando, perguntou: “você sabe o que é harosset*”? *Harosset é um doce (parecido com goiabada na cor e consistência, mas não no gosto), mistura de frutas secas, tâmaras, uvas passa e nozes, que se come acompanhado de Matzá durante o pessach e lembra a argamassa usada pelos escravos judeus no Egito para fazer os tijolos utilizados em construções. 21/04/2018

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