sábado, 2 de novembro de 2019

Sábado um amigo de Salma morreu. Você não vai acreditar, ela disse a Mané. Mané não era assim tão chegado, mas era. Mané encontrou com ele, o que, umas 30/40 vezes na vida. Viajaram uma ou duas vezes, muitas festas de aniversário. Mané nunca sentiu sua falta nos lapsos, Salma sim. Mané se dava bem com ele, era sempre um desafio manter uma conversação, era uma pessoa que estava sempre alerta e sempre provocativa. Contava ano após ano os mesmos causos, mas toda vez tratava de acrescentar algum detalhe e assim, sempre surpreendia a todos. E como não eram tão íntimos assim, sempre que se viam só tinham tempo de gargalhar sobre momentos passados e gargalhar sobre as gargalhadas dos momentos passados. Os amigos estão falando dele, que vão sentir saudades, que ele era ferino mas também afetivo, ou seja, ninguém vai sair ileso. Mané não era assim tão chegado, mas era. Mané fica olhando para a tristeza de Salma e acaba ficando triste. Mané presta atenção nas coisas que ela fala dele e fica querendo que ela não falasse, ou pelo menos que tudo lhe fosse mais leve. Não vai ser. Mané se pega pensando na viúva, no filho da idade dos seus e se atormenta, como vão tapar esse buraco? Desde sábado os pequenos entreveros do dia a dia se tornaram grandes, os grandes se tornaram insuportáveis. O velório foi num lugar longe e, no longo caminho, Mané desejou que ele estivesse brincando, seria típico dele acordar ali e fazer chacota de todos. Não estava.29/10/2019

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