sábado, 11 de abril de 2020

A essa altura do campeonato Mané já arrumou as estantes, gavetas e armários duas vezes pelo último levantamento. Aos 18 dias de afastamento social, ja lavou a louça 54 vezes, isto é, 53 porque Salma usurpou-lhe esse divertimento uma vez. Já fez faxina e lavou banheiro. Salma treinou Anuar a pendurar e tirar roupas do varal e Samira a limpar seu próprio quarto e banheiro. Já exploraram todos os lugares da redondeza onde se vende comida pronta, também cozinharam e fizeram juntos as três refeições diárias. Apesar da dilação do prazo, terminaram a declaração de IR de Samira. Nos dias úteis Mané trabalha um pouco e já ameaçou seus funcionários com o corte do ponto caso não respondam aos WhatsApps rapidamente. A moça dos serviços gerais da casa passa longas mensagens a Salma preocupada com o bem estar da família e perguntando se estão conseguindo se virar, ela agradeceu por ter recebido o salário sem descontos. Mané telefona duas vezes por dia para sua mãe Sara e lê um livro por semana. Samira atende alunos por um aplicativo deitada na cama, Salma conversa com clientes pelo telefone e Anuar quer saber quando vai voltar ao trabalho mas, enquanto isso, ele desenha. Às vezes, no final da tarde, Mané sai com Anuar para dar uma volta de carro e relembram os tempos em que o único perigo de sair às ruas era ser assaltado. Aproveitam esses passeios para deixar na portaria de Sara alguma coisa que ela esteja precisando. Vez ou outra Mané sai para andar a pé pelo bairro mas agora pensa limitar seus exercícios a descer até o térreo pela escada e subir de volta, duas vezes por dia. Ele aproveita esse momento para descer o lixo, são 12 andares até o segundo subsolo. Assistem um filme por dia na Netflix mas Mané tem dúvida de quanto tempo mais poderá aguentar esses privilégios e acha que já está querendo de volta a sua antiga vida de merda.04/04/2020

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