sexta-feira, 24 de abril de 2020

O dia de ontem, por alguma razão, foi pesado. Custou a Mané lavar as três louças do dia e, por diversas vezes teve vontade de deixar toda aquela porcaria acumulando na pia. Claro que acabou lavando tudo, mas a louça remanesceu parada e suja na pia por mais tempo que de costume. Só conseguiu ligar pra mãe quando já era final da tarde, quase não tiveram assunto, mas também, quem é que tem alguma coisa pra contar nesses dias tenebrosos. Mané percebeu que o desanimo se espraiou pela casa, todos os membros da família fizeram as coisas com mais vagar e desânimo. Samira só saia do quarto para comer, durante o plantão virtual mal olhava para ver se algum aluno a chamava, Mané teve que arrancá-la da cama à força para que viesse lhe dar uma explicação sobre o skype e, mesmo assim, só saiu atraída pelo pedaço de ovo de páscoa que lhe ofereceu. Anuar disse que ia terminar de escrever uma história, também só saiu à luz para comer e tomar banho, Mané viu que ele falou ao telefone algumas vezes. E Salma, ah Salma; quando Mané foi ao quarto por volta das 19 hs para tomar banho depois da caminhada, percebeu horrorizado que a cama estava desfeita tal qual a havia deixado as 6:15 quando acordou pela manhã. Irritado com Salma por ter obliterado sua função, começou a esticar os lençóis e o edredom e ficou em dúvida se colocava a colcha por cima já que daqui a pouco teria que removê-la quando fosse dormir. Fez a cama mal e porcamente, com certeza sentiria os vincos deixados no lençol de baixo quando deitasse, nem ao menos afofou os travesseiros. Lá pelas 22:00, Mané resolveu desistir finalmente do dia e foi dormir. Quando removia a colcha escutou uma reclamação; olhou para os lados para ver quem falava com ele. Era a cama que reclamava veementemente pela bagunça: “mas já vai me desarrumar de novo, mal pude me recuperar da noite anterior, você acabou de me arrumar!” Mané sentou no lençol engruvinhado enquanto vestia o pijama e não deu ouvidos às reclamações do leito que em pouco o receberia. Mané deitou, acendeu o abajur, abriu o livro e sentiu as dobras do lençol e os travesseiros socados. Então levantou, tirou toda a parafernália de cama, esticou tudo de novo, afofou vigorosamente os travesseiros e deitou novamente, mas a essa altura já tinha perdido o sono.24/04/2020

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