sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

As mulheres juram que não há dor maior que a dor de parto. Ainda dizem que o homem que tiver que passar por tal situação, com certeza não levará o parto à termo. Os representantes do sexo forte são fracos quando se fala em aguentar dores. Mas isso depende da dor. Martelada no dedo dói. Também dói torcer o calcanhar ao tropeçar, dói ralar o joelho, prender a mão na porta, levar um chute na canela e também doem os músculos quando ainda faltam quarenta minutos para terminar o tempo da esteira e só se passaram dez. O cansaço dói! As mulheres falam da dor do parto porque nunca levaram um chute no saco. Ou nunca fizeram vasectomia. Um amigo disse que a dor da vasectomia é equivalente a levar um chute no saco a cada dois minutos durante uma semana. Quando se dorme mais da conta pode se acordar com dor de cabeça. Infindáveis são as dores de cabeça, latejantes, permanentes ou pontiagudas. O trânsito, o dia cheio, funcionários que faltam, a falta de dinheiro, o calor fora de hora, a pressão alta e a batalha contra a gordura fazem a cabeça doer. Forçar a vista também. Tem aquelas que atacam ao acordar, outras que aparecem ao longo do dia, mas as piores são aquelas que só começam na hora de dormir! O casal se estica na cama, os pés se enroscam e como resposta vem à tona a famosa dor de cabeça. Dor de cabeça que se confunde com as dores da alma. Entre os infinitos tipos de dores existe a dor do amor. Esta é uma dor pungente, aflitiva, profundamente dolorida e lancinante que leva muito tempo para passar e, diferentemente de outras dores, deixa sequelas permanentes. As mulheres devem sentir muitas dores nos pés a bordo daqueles sapatos de salto alto. Ou das sandálias que deixam os dedos à mostra. Uma pisada nos pés femininos, normalmente tão delicados, deve dar uma dor de trespassar a alma. A avó contava que tinha sentido dor quando teve o enfarte. Assim, como se fosse uma punhalada. Como resposta o neto perguntou se ela já tinha levado uma punhalada e ela disse que sim. Tinha levado muitas, algumas frontais e outras pelas costas. Disse ainda que ficar velha doía. No corpo e na alma. Existe também a dor das separações e para esta não existem palavras consoladoras. Mortes, desenlaces matrimoniais, perda de empregos. Todo tipo de perda provoca um vácuo que é só preenchido pelo tempo. Às vezes nem o tempo resolve. É uma dor que, mesmo calada, pode doer a vida inteira. É uma dor silenciosa e nem precisa dizer nada, mas, no íntimo, grita pela falta o tempo todo. Abandono dói! Solidão dói! Pode-se fazer uma lista de todas as dores. Em ordem alfabética ou por intensidade da dor. Pode-se enumerar os efeitos de cada dor nas pessoas, mas, a dor se manifesta de forma diferente em cada um. Dependendo da razão, pode ser diferente. Numa pessoa pode ser maior, noutra menor. Pessoas reagem de forma diversa: algumas choram, outras agridem ou ficam com raiva. Algumas, às vezes se calam, morrem interiormente e depois, quase sempre, vão ressuscitando devagar. Aos poucos. E a dor de dente? Pior que a dor de dente é a dor que sentimos no dentista. A dor começa a doer quando sentamos na sala de espera. Começa quando aquele aparelhinho é ligado, mesmo que para ser aplicado na boca dos outros. Precisa-se de anestesia antes de abrir a boca. Imaginar aquilo que o dentista vai fazer já dói. É uma dor que se prolonga por um tempo interminável e atinge profundidades abissais dentro do seu âmago. E depois vem a dor da conta. Quando terminamos o tratamento e pagamos o débito. Pagar médico dói! Hospital dói mais! Arrancar casquinhas de feridas dói. Falar das fraquezas dói. Encarar os próprios erros dói. Tomar decisões erradas dói. Dormir em colchão que não é seu dói. Levar uma flechada dói. Ou um tiro. Ou uma cusparada. Tem uma infinita lista de dores sobre as quais poderia falar. Ver o filho triste dói. Cortar a mão com uma folha de papel também. Traição dói. Unha encravada. As aftas ardem e doem. Preconceito, intolerância, fome, humilhação, exame de próstata, pedra no rim. Isso dói! Ficar enumerando as dores não dói, ao contrário, dá prazer. Desde que você não esteja sentindo nenhuma. O prazer também pode causar dor. Existe ainda uma dor especial. Uma dor que é muito enjoada e atinge a muitos e não somente a aquele que a sente. Ao contrário de outros tipos de dor, esta, quando é detectada, pode fazer doer mais nas outras pessoas do que naquela que foi atingida. Quem a sente destila sua dor em pessoas próximas que, por uma ou outra razão, fizeram-na aparecer. A principio, essa dor não tem cura. É progressiva, à medida que fatores exteriores a fazem mais evidente. Falo da inveja, da dor de cotovelo, da cobiça. Do desgosto, ódio ou pesar pela prosperidade ou alegria de outrem. Para esta dor não existe cura. Talvez um ramo de arruda. Para as outras dores, sim, existe solução. Um bálsamo, um curativo, um beijinho da mamãe, o tempo ou um comprimido, tudo isso pode ajudar. 17/12/2020

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