sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
Até o início da adolescência Mané morou na Av. Rio Branco, centro de São Paulo, bem em frente à Praça Princesa Isabel, onde tem um monumento eqüestre do Duque de Caxias. O prédio onde morava tinha sido construído para ser um hotel de luxo, mas alguma coisa aconteceu e o proprietário optou por alugar os apartamentos para uma população que, ao longo do tempo se mostrou bastante diversa. Ali moravam famílias da baixa classe media como a de Mané, gente solteira, tinha pequenos negócios como alfaiates e, na sobreloja, uma empresa que vendia material hospitalar. No andar de Mané eram três apartamentos, num deles morava a família do próprio, no outro sua avó e no terceiro uma mulher solteira com seu filho, que se tornou um bom amiguinho de Mané. A mãe do amigo era uma loira tingida, alta e se fosse hoje, Mané a classificaria como gostosa. A mãe de Mané logo se aproximou da moça, conversavam no hall e às vezes, ela encomendava um vestido à mãe de Mané que era costureira. Mané entrava e saia da casa deles como se fosse uma extensão da sua, idem para o amiguinho. A moça descobriu-se ao longo do tempo, trabalhava num dancing ali perto, na esquina da Av. Rio Branco com a Rua Aurora, o famoso Avenida Danças e aos poucos ficou patente que ela era, bem...ela era, em bom português, vai, ela era puta mas se auto intitulava taxi-girl. Nada disso atrapalhou a relação dos vizinhos, ao contrário, Mané e seu pai adoravam aquela mulher que não tinha cara de mãe, andava sempre bem vestida e perfumada e, quando os amigos brincavam pela casa empurrando um carrinho ou jogando bola de gude, ela sempre lhes dava um show extra ao sair do banho enrolada numa toalha, trocando de roupa na frente deles, sempre conversando carinhosamente, ou mesmo quando lhes preparava um lanchinho de calcinha e sutiã, uma mulher adorável. Quando tinha ir à rua, já vestida, pintada e arrumada, despedia-se dos garotos com um beijo estalado, dava recomendações de bom comportamento e saia deixando atrás de si um rastro perfumado, Mané não sabia, mas estava completamente apaixonado por ela. Na véspera do Natal ela solicitou e a mãe de Mané permitiu que ela o levasse a uma festa vespertina no seu local de trabalho. Mané se lembra até hoje da sua primeira festa de Natal, com Papai Noel e tudo, com presentes, música de carnaval para os petizes e suas mamães. Foi um evento muito marcante para Mané que nunca tinha se divertido tanto até então, em meio a todos aqueles filhinhos e filhinhas das putas e ele lembra que todas as moças cuidavam dele, que era o único ali sem mãe, em especial uma jovenzinha que queria a todo custo adotá-lo, pois achou que ele fosse órfão. Algum tempo depois a vizinha se casou com um cara mais velho, eles se mudaram dali e Mané nunca mais teve noticia. 16/10/2020
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