sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

É sabido que Sara, a jovem mãe de Mané aos 21 anos, teve muito trabalho com o próprio na travessia do Atlântico em 1957, quando vinham para o Brasil na qualidade de refugiados do Egito. Nos 15 dias que passaram a bordo do Provence na rota entre Gênova e Santos, Mané teve alergia a comida, escapou por pouco de ser esmagado pela irmã numa noite tempestuosa em que ela despencou do beliche e, entre outras coisas, passou pelo vexame de andar pelo convés atado a uma coleira peitoral, semelhante às que hoje usa o Milu, pois Sara morria de medo que ele se desprendesse, caísse no Atlântico, morresse afogado ou fosse devorado por um peixe-espada. Quase foram desembarcados em Cabo Verde pois o capitão desconfiou que as pipocas geradas pela alergia fossem na verdade uma doença contagiosa. Mané escutava a sua mãe a contar o caso quando veio-lhe uma curiosidade: "mãe, eu tinha um ano e pouco, como você fez com as fraldas, já que na época não existiam as descartáveis"? A mãe de Mané fez uma cara de nojo e disse: "levei um estoque de fraldas de pano, as de xixi eu lavava na cabine e as de cocô atirava pela janela". Mané pensou não ter ouvido direito e perguntou: "atirava o cocô pela escotilha"? A mãe, gargalhando, perguntou, "o que você queria que fizesse naquela cabine minúscula, aquele fedor, sua irmã até vomitou uma vez, tinha que me livrar logo daquela porcaria". Quando parou de rir Mané disse que agora entendia o medo dela de que ele caísse, imagina o bebezinho morrendo afogado num mar de esgoto. E a mãe: "todas faziam isso e olha que tinha muitos bebês no navio, ainda bem que eram de algodão, já devem ter de decomposto, se fossem descartáveis sua bosta estaria até hoje no mar"! 04/10/2020

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