sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Houve uma época que Mané fez terapia. Tinha passado por um psicólogo durão que não falava e quando o fazia era muito baixo. Mané um dia reclamou e ele disse que ali quem mandava era ele, que Mané se esforçasse para não querer controlar tudo e essa foi a última vez que se viram. Depois Mané ancorou-se no consultório de uma moça de olhos verdes que lhe perguntou se queria deitar ou sentar, que ria de suas piadas, respondia as suas perguntas e lhe dizia "continue" e "fale mais sobre isso". Mané lhe disse que sabia quem ela era, que tinha estudado com sua irmã e ela respondeu que ela também sabia quem ele era. Ficou assim, freqüentando a moça uma ou duas vezes por semana, Mané não lembra. Lá ele confessou suas mazelas e jactou-se de suas conquistas. As primeiras olhando pro teto e as outras olhando nos olhos dela. Mané achava que ela tinha um narigão que caia bem no rosto dela, instalado entre seus olhos quase sempre sorridentes. Um dia, dois anos depois, a moça falou pra ele que “acho que nós terminamos por aqui, vamos compor um final para essa relação e seguir em frente”! Como assim, disse Mané, não sou mais louco o suficiente pra você? Ela gargalhou e falou pra Mané encarar aquilo como uma alta e que se ele quisesse continuar a terapia, talvez devesse fazê-lo com outro profissional. Mané ficou contrariado, exigiu e obteve mais umas quatro sessões para se conformar com o fim. Pouco tempo depois Mané se acertou com a namorada e casou com Salma, que tinha sido aluna da terapeuta de olhos verdes. Mané nunca mais falou com ela mas, certa feita, a viu num evento de psicólogos e apresentou-a à então bebê Samira, que não se deu conta de nada. Ela passou a mão no cocoruto dela e sorriu, seus olhos ainda brilhavam. 29/09/2020

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