terça-feira, 30 de março de 2021

Aslan, o pai de Mané, foi trabalhar de manhã no dia em que teve um AVC, aos 83 anos. Depois da hospitalização voltou pra casa e viveu até os 90. Nesses sete anos foram inúmeros os sobressaltos, Aslan ficou com a mobilidade prejudicada e quem arcou com esse fardo foi Sara, a mãe de Mané, que cuidou dele com ajuda de cuidadores. Farida e Mané deram apoio logístico e moral, além de comprar livros e guloseimas para o pai. Aslan não andava direito e a mão direita não funcionava mas, até o último dia, ficou lúcido e com a cabeça operante, para nossa sorte e talvez para azar dele que assistiu a tudo que perdeu. Ao longo desses anos de doença ele e Sara tiveram muitas discussões, algumas bem sérias. Aslan que sempre foi um cara pacífico, tornou-se turrão e exigente e isso se chocou com a personalidade explosiva de Sara. Um dia, Sara liga pra Mané e lhe diz: venha já pra cá ficar com seu pai porque eu vou embora. Era folga do cuidador, Mané foi. O clima estava ruim e assim que Mané entrou, Sara saiu. "O que houve pai"? E ficaram lá conversando até que Mané descobriu que a discussão era por conta da substituição de um cuidador, Aslan queria uma mulher e Sara um homem pelo fato de ser mais forte, as vezes era preciso levantar e ajeitar o pai e as mulheres sofriam mais. Mané achava que Sara tinha razão, tentou contemporizar com o pai que, olhando para os lados para ver se ninguém ouvia, falou: "vc sabe que não faço quase nada sozinho a não ser ler, certo? Sabe que precisam me dar banho e me limpar, certo? Então? Você gostaria que um homem ficasse passando a mão na sua bunda, no seu saco e sabe onde mais? Quero uma mulher, se for gordinha melhor, fica tudo mais aconchegante"! Mané convenceu Sara e, até o último dia de vida, Aslan teve duas cuidadoras, uma delas bem gordinha.10/01/2021

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