terça-feira, 30 de março de 2021

Até os 23, Mané foi uma pessoa que roía as unhas. Naquele ano de 1978 entrou pra trabalhar no escritório onde estagiava, uma mulher de 29 anos, cientista social, que ia dar assessoria num projeto de planejamento urbano. Ela era linda! Vestia terninhos ou vestidos chiques e usava sandálias de salto alto, diferente de todas as meninas com quem Mané andava, que só usavam jeans e chinelinhos de dedo. Mané se apaixonou por ela de forma fulminante. Nas duas primeiras semanas ela nem se deu conta da presença dele. Quis o destino, porém, que se encontrassem nos meandros do projeto e, numa viagem de prospecção, acabaram ficando juntos. Mané arrastava uma betoneira e ficava de quatro por ela. Ela, bem, como diremos, era condescendente com as investidas de Mané. Começaram a namorar e a mãe de Mané encrencou com a garota, muito velha, não é o seu tipo e “ela vai te engolir”. Mané começou a frequentar sua casa, iam ao cinema, iam jantar, riam, conversavam e se divertiam mas, um dia, Mané acariciava os seus recônditos quando ela fixou o olhar na mão dele e exclamou: “que nojo, você roe as unhas”? Daquele dia em diante ela começou a cuidar das unhas de Mané, tirava as cutículas, lixava, sempre dizendo: “se vai por a mão em mim, as unhas vão ter que estar limpinhas e arrumadas”! O idílio dos dois durou pouco, Mané logo voltou para os jeans e os chinelinhos mas o hábito de lixar as unhas permaneceu e Mané nunca mais as roeu. As namoradas sempre estranhavam quando Mané pedia pra elas lixarem as suas unhas e então ele passou a fazer isso sozinho, uma vez por semana. Anteontem enquanto lixava as unhas, Mané bufou e quando Salma perguntou o que era, ele disse: “odeio lixar as unhas” ao que ela então respondeu: “mas você faz isso desde que te conheço, resolveu odiar agora? Quer que eu lixe pra você”?04/03/2021

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