Uma das coisas que Mané lembra com prazer é do dia em que ganhou uma bicicleta. Na verdade ele e a irmã ganharam a mesma bicicleta. Eles eram pobrinhos e moravam lá na Rio Branco e, até então, o único veículo que tinha possuído era um carrinho de rolimã, feito com pedaços de madeira velha. Não queiram saber como foi duro adquirir os rolamentos. Mas enfim, a vida melhorou um pouco e lá foram, ele, Farida e Aslan, comprar uma bicicleta. Na loja da Pirani, “a gigante de São Paulo”, o vendedor quis saber para quem era o mimo e Aslan respondeu que era para os dois. O vendedor tentou argumentar que seriam melhor duas porque bicicleta tem sexo: com barra para homens, sem barra para mulheres. Diante do impasse, Aslan decidiu comprar uma de mulher, já que a falta da barra não impediria Mané de usar. Mané chiou. Os amigos iam achar que ele era mulherzinha. O pai não se deu por vencido e adquiriram uma sem barra, pelo bem de Farida. Mané voltou pra casa inconformado mas lembra que usou a tal bicicleta para mulheres por muitos anos, muito mais do que Farida que logo cresceu, arrumou um namorado e nem ligava mais para a bicicleta. Na perspectiva de hoje, Mané não consegue ainda entender a razão da existência dessa bicicleta sem barra para mulheres. Só pode ser machismo. A mulher não podia passar a perna por cima da barra para montar? Ela tinha que fazer aquele movimento pudico, passar uma perninha pro outro lado delicadamente escondendo as vergonhas. E a bicicleta para homens? Um perigo! E se o cara leva um tombo pra frente e esmaga o saco naquela barra? 08/04/21 Depois de operar a pálpebra na sexta Milu teve uma infecção intestinal e, no sábado pela manhã, tomou três injeções, antibiótico, anti-inflamatório e antiemético (nada a ver um evento com o outro). Resulta que Milu ficou, sábado e domingo sem defecar e Mané, que tinha dormido bem na noite de sábado, voltou a ficar agitado na de domingo e, hoje pela manhã, ligou para o veterinário: “48 horas com zero cocô, o que fazer”? E o médico: “normal, ele esvaziou o intestino totalmente com a diarréia e agora está enchendo de novo, ele deve cagar hoje”! Mané saiu à rua logo cedo com o cão e por causa do abajur ele não consegue farejar e por isso ele foi e voltou sem fazer nenhum cocô, aumentando muito a frustração e a ansiedade de Mané. Assim foi na segunda e na terceira vez que saíram e Mané, que estava quase botando um ovo, quase o levou ao veterinário. Agora à tarde, Samira e Anuar levaram-no a passear e Mané ficou rezando em casa. Voltaram depois de 20 minutos radiantes, “Milu cagou”! Comemoraram e festejaram e Samira disse a Mané que o pessoal da rua devia estar achando que são loucos pois quando Milu defecou, ambos ficaram aplaudindo e parabenizando. Tiraram fotos?, perguntou Mané. Não? Foram sem celular, que droga. Mas para não deixar as pessoas curiosas, segue um vídeo do mês passado do Milu fazendo a coisa mais esperada das últimas 72 horas. 05/04/21