Lá no escritório tem um porão onde todos tem medo de entrar e por isso usamos apenas a parte da frente, que equivale a 20% da área total. Nestes 20 por cento estão algumas coisas arquivadas para serem esquecidas e numa prateleira espremida entre a parede e um armário do qual não temos chave, está colocado o nosso estoque de material de escritório.
O contador, que trabalha num esquema de escritório remoto, chegou ofegante e suado, depois de ter viajado duas horas de ônibus da casa dele até o escritório, para resolver um problema com o INSS. Bem talvez seja o FGTS, quem sabe a Receita Federal, mas, na verdade isso não tem a menor importância.
O fato é que ele sentou no computador e começou a clicar em diversos lugares e sites e. num determinado momento, pediu por uma caneta. Como eu só uso Montblanc, Waterman ou Aurora e não costumo emprestá-las nem por um caralho, recusei-me a ceder uma destas e disse que não tinha caneta nenhuma, mas, caso ele quisesse uma, poderia descer até o tal porão onde acharia caixas e caixas de bics ou equivalentes.
Ele respondeu que aquele lugar era infectado por todo tipo de praga e que seria extremamente desagradável pegar alguma doença para conseguir anotar umas poucas coisas no site da receita (ah! então o problema é na receita!). Respondi que não havia outra alternativa e pedi para que desviasse o olhar das minhas canetas que aquelas, eu não emprestaria. Elas eram inemprestáveis. Com um muxoxo levantou-se para se dirigir ao porão e lá ficou por um tempo muito maior que eu imaginava.
Quando voltou estava suado e com a camisa manchada de pó e graxa em três pontos visíveis. Trazia gotas de suor na testa e nas têmporas e coçava o antebraço da mão que segurava uma caneta bic.
Perguntei o que tinha acontecido e ele respondeu que tinha localizado diversas caixas de canetas, uma delas aberta. Quando enfiou a mão dentro da caixa sentiu, ou imaginou sentir, seus dedos tocando alguma coisa pequena e peluda. Tirou a mão rapidamente pensando ser uma aranha ou, na melhor da hipóteses, um camundonguinho. Ao fazer esse movimento estabanado derrubou a caixa aberta de canetas e seu conteúdo foi despejado atrás da estante, com estardalhaço, num local sem acesso, entre a parede e o armário trancado e sem chave. Que merda, pensou!
No entanto, ao recuar assustado, jura ter visto algum ser despencando da estante junto com as canetas; não sabe dizer se uma aranha ou um camundonguinho, quase filhote. Conta ainda que abaixou-se para tentar reaver as canetas, mas, o chão em baixo da estante parecia se mover e ele então resolveu abdicar daquelas canetas, abriu uma outra caixa, pegou uma caneta e subiu, já sentindo uma coceira no braço. perguntei sobre as manchas e ele respondeu que achava que, ao se abaixar, deve ter raspado em alguma superfície nojenta, coisa que não falta lá embaixo.
A coceira acabou sendo debitada a algum dos milhares de pernilongos que moram naquele porão, mas, xi!, o pernilongo te picou agora de dia?, será que não é um aedes aegypti?
Tendo recolhido os dados necessários para tentar resolver nossos problemas com o fisco, despediu-se dizendo que ia para casa pois se sentia enjoado e doente e que esperava não pegar dengue. A última coisa que falou foi: "tem um monte de caneta lá embaixo da estante!"
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