quarta-feira, 12 de julho de 2017

Mané entra no vagão do metrô vazio. Escolhe um banquinho na extremidade do trem, senta e vê que tem mais uma pessoa, na outra extremidade. Mané abre a mochila e puxa o livrinho que esta lendo, um romancete sobre fanatismo religioso e a miséria sul americana. Mané está com a cara enfiada no livro e percebe que a moça que estava na outra extremidade do trem se levanta e vem em sua direção, sorrindo atrás dos óculos escuros. Alarmado, Mané percebe que ela vai sentar ao seu lado e ela senta. Mané se pergunta o porquê desta invasão e se remexe aflito no assento. O trem continua vazio. A moça coloca os óculos na testa e pergunta, assim à queima roupa, o que é que Mané estava lendo. Mané, com tolerância zero, responde: é um livro sobre física quântica. A moça, não se dando por vencida resmunga: ah, o quantum de Albert Einstein, sabia que sem física quântica não teríamos o exame de ressonância magnética, nem controle remoto, nem ao menos o bom e velho computador? Mané, que via seu tempo dentro do metrô se esvaindo, disse que não entendia nada de física quântica e que aquele livro, na verdade, era um romance sobre religião e miséria. E a moça: ah, entendo, sabia que, segundo uma pesquisa feita em 2001 no Reino Unido, 79% das pessoas acham que a religião é origem de conflitos e miséria? Mané colocou o marcador no livro e o guardou de volta na mochila. Sorriu pra moça e pela primeira vez notou que ela era bonitinha e tinha uma bela arcada dentária. E ela: olha, não quero atrapalhar, pode continuar a sua leitura. Na estação Brigadeiro o trem já estava cheio e a moça sorriu de novo para Mané e disse que desceria na próxima. Mané, que também desceria na próxima, optou, por via das dúvidas, esperar mais uma e desceu na seguinte. No Paraíso, a moça lhe deu um tchauzinho e Mané, antes que ela descesse, perguntou: como ela se chamava. E ela respondeu: Ana Rosa. 30/06/2017

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