domingo, 5 de novembro de 2017
Eis que Mané está andando pela Av. Paulista, braço dado com Salma, ambos debaixo de um guarda chuva que os abriga da garoa que um dia já caracterizou a cidade. Estão andando agarradinhos, protegendo-se das rajadas molhadas de vento frio. Quem visse imaginaria o casal de antes, andando pelas ruas cinzentas e nebulosas sem se importar com nenhuma intempérie, apenas a sensação de estar juntinho é que valia, ah o amor. Só que não. Estavam saindo de um lugar chato e indo pra outra paragem tão chata quanto a primeira e por terem comido um saquinho de pipoca doce comprada lá na frente do prédio da Gazeta, resolveram caminhar até o fim da avenida pra queimar as calorias tendo sido apanhados pelo chuvisco mas, enfim, não era disso que Mané queria falar. Lá pelo meio da caminhada Salma chama a atenção de Mané para a enorme quantidade de casais homossexuais que passavam por eles, homem com homem, mulher com mulher, raríssimos eram os casais, como Salma e Mané, heterossexuais [quase] convictos. E Salma festeja dizendo, “que legal, cada um poder fazer o que quiser, andar como e com quem quiser, fazer suas próprias opções, essa é a avenida da tolerância”. Depois de um curto silêncio, Mané questiona: “mas onde estão os casais héteros”? Depois de pensar um pouco Salma fala baixinho pra Mané: “não sei! Na verdade to me sentindo meio estranha aqui agarrada a um homem”. E Mané: “eu também! Olha, o metro Consolação, chega de andar, vamos sair daqui”!05/11/2017
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