quarta-feira, 4 de julho de 2018

Mané trabalhou por quase 20 anos no Unibanco. Nesta empresa, Mané teve uma boa carreira, entrou num cargo subalterno e foi sendo promovido amiúde em períodos que nunca ultrapassaram dois anos. Quando saiu, Mané tinha um cargo de relativa importância, tendo sempre tido a sorte de se dar bem com seus (poucos) chefes, o que também deve ter contribuído para o bom andamento das coisas. Mané saiu do banco no rastro da compra do falido Banco Nacional, quando o Unibanco deixou de ser o que era e passou a ser o que viria a ser. Mané sofreu nesse período porque sempre trabalhou na área de leasing que era uma empresa à parte, e as outras áreas do banco, ou seja, o banco todo era um mistério para Mané, apesar da sua larga experiência. Isso foi fatal naquele momento de mudança, gente antiga saindo, gente nova chegando, eis que seu tempo acabou por ali, enfim, vida que segue. Mané pensou nisso ao ganhar um livro escrito pelo Israel Vainboim, ex presidente do Unibanco na época, pessoa com quem Mané manteve uma distante e boa relação e, por incrível que pareça, ao ler o capitulo do livro que versava sobre a Unibanco Leasing, Mané chegou a se emocionar, as lembranças daqueles anos vieram à tona e, o que significa essa lágrima que chegou a pingar no pijama? Relação estranha essa que temos com as empresas onde trabalhamos onde se misturam amor e ódio, quando tratamos uma S A enorme como se fosse o quintal da nossa casa, sobre o qual teríamos algum direito, que coisa esquisita. Mané não tem vergonha de dizer que sente saudades do Unibanco, apesar de que Salma sempre ressalta que Mané chegava todo dia em casa reclamando do banco, mas sabe como é, estamos ficando velhos, coisas ruins a memória apaga, senão, como sobreviveríamos? Isso suscitou outra pequena lembrança, um episódio ridículo vivido por Mané em plena Avenida Paulista. Num sábado à noite, Mané voltava para casa depois de um cinema e eis que passa por uma agência do Unibanco que tinha acabado de se fundir ao Itaú. Três pessoas instalavam o letreiro do Itaú na agencia tão conhecida de Mané enquanto ao lado, no chão, jazia o letreiro do Unibanco. Mané se irritou com aquilo e, apesar dos protestos de Salma, parou o carro numa reentrância da calçada e se dirigiu aos gritos aos operários, perguntando por que tinham deixado o letreiro do Unibanco ali jogado e um deles responde “calma tio, mudou o nome do banco” e Mané: “mas vocês não precisam atirar o letreiro assim no chão”. Depois, percebendo o absurdo, Mané retornou ao carro, mas ainda teve tempo de ouvir o rapaz dizer: “cada mané que aparece, essa merda vai pro lixo mesmo” e gritar “se quiser leva para casa esse lixo, mané”. Chateado no carro, sentindo saudades de sabe-se lá o que, Mané tentou voltar à razão e Salma, para desanuviar, falou: “não fica assim, é compreensível você se sentir pessoalmente atingido, foram tantos anos e, veja só, você também foi importante para o Unibanco, até esse operário sabia seu nome...”04/07/2018

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