quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Do lado do portão da garagem do prédio de Mané tem uma padaria. Nos finais de semana eles colocam mesas na calçada e quando Mané chega ou sai ele vê a cara das pessoas e o que elas estiverem comendo ali ao lado da janela do carro. No domingo passado quando eram umas onze da manhã Mané saiu e viu um casalzinho, sentados um de frente pro outro, tomando um brunch. Pareciam sérios, um falava o outro respondia, as mãos espalmadas encima da mesa, mas sem se tocar. Mané saiu e quando voltou, uma hora depois, eles ainda estavam lá, mas a esta altura a menina já esboçava um sorriso, o rapaz gesticulava para todos os lados e, entre fatias de presunto e pães de queijo, as mãos já se esbarravam e os olhares se cruzavam com maior intensidade. Uma hora e trinta minutos depois, Mané saiu pra levar o filho até ali e quando olha para a tal mesa, os pombinhos ainda estão sentados, o rapaz já tinha puxado a cadeira para mais perto da menina, tinham pedido uma salada, estavam de mãos dadas e a menina sorria languidamente enquanto o rapaz lhe dizia coisas no ouvido. Mané deixou o filho e meia hora depois voltou pra casa só pra ver o casal entrelaçado à mesa, o braço do rapaz já em volta do ombro da moça, coxas se tocando por baixo da mesa e o pé descalço da moça...Mané se enganou ou ela o esfregava vigorosamente na panturrilha do moço? Essas entradas e saídas de Mané se repetiram mais algumas vezes e, a cada vez, o ambiente se tornava cada vez mais quente entre os dois e Mané se perguntava por que diabos eles não saiam da mesinha e às oito da noite, quando Mané os viu pela última vez, eles se beijavam por cima de uma pizza também endurecida, sentados na mesma cadeira, ela no colo dele. Mané embicou o carro na calçada, o farol alto iluminou o idílio e Mané, com certa inveja, ficou ali observando o amasso por um tempo não definido quando eles, sentindo-se observados, olham diretamente pra Mané com olhos inquiridores e Mané, pego com a boca na botija solta uma pérola: “parece que deu crush, estou feliz por vocês”. O rapaz ensaiou ficar bravo, mas a moça o conteve pondo a mão na sua coxa perto da virilha (Mané também teria sido contido dessa forma). O portão da garagem abriu, Mané olhou pra moça e ele tem certeza que ela lhe sorriu com o olhar, já tinham cruzado olhares muitas vezes, pois era ela que estava virada pro lado da garagem desde as onze da manhã. Mané entrou na gaiola e chegou em casa com um sorrisinho nos lábios. Salma perguntou qual a razão da alegria, Mané respondeu que estava com saudades. 31/03/2019

Nenhum comentário: