quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Mané pisa no freio e para no farol demorado. Na falta do que fazer cantarola um pedaço de Hotel Califórnia-Eagles e olha para o lado da calçada onde vê, sentada numa mureta de um prédio, uma garota trajando um vestidinho azul curto e chinelo de dedo, lendo um livro com atenção, de pernas cruzadas, uma coxa sobre a outra. Na tentativa de ver a capa do livro que a moça lia, Mané ficou espichando o pescoço e entortando a cabeça, sem no entanto obter sucesso na sua empreitada. O que Mané pôde sim ver, foi que ela tinha um sublime par de coxas e um pé sedutor, que tinha as unhas pintadas de vermelho. Ela, sentindo-se observada, olhou para Mané com olhos inquiridores e levantou o livro para que ele pudesse ver a capa. Mané, que a essa altura tinha perdido o interesse na literatura sorriu envergonhado e a moça sorriu de volta desdobrando as pernas e revelando um tantinho a mais daquilo que Mané mirava. Súbito, buzinas puseram fim ao idílio, Mané olhou mais uma vez para as pernas dela e afundou o pé no acelerador. A propósito, o livro que ela lia era “o apanhador no campo de centeio” de Salinger, uma garota quase perfeita. 23/04/2019

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