domingo, 28 de junho de 2020

Nesses dias de prisão domiciliar o estresse por vezes se instala no solar de Mané que olhou com desalento para a 300a pilha de louça que iria lavar e Salma, quando percebeu que ele iria perorar, disse que não estava afim de ouvir reclamação que se ele estava cansado de lavar louça ela estava cansada de por a mesa e esquentar comida e ficar gritando «tá na mesa» «tá na mesa» umas vinte vezes pra todos se dignarem a aparecer pra comer e ainda falou que o único que a atendia imediatamente era o cachorro e que por isso era melhor todo mundo comer calado sem reclamar. Um pesado silêncio instalou-se no recinto e Mané performou a lavagem de louça de número 300 num mutismo digno de um monge. Mais tarde saiu para caminhar com Anuar e entrou numa lojinha da Heitor Penteado que vende bugigangas e deparou-se com esse objeto que lhe iluminou o dia. Confidenciou a Anuar suas intenções que o apoiou de imediato e ao chegar em casa entregou a campainha para Salma que o mirou com curiosidade e, diante disso Mané se sentiu na obrigação de lhe dizer que: «pronto, não precisa ficar gritando tá na mesa vinte vezes, apenas acione esse botão duas vezes que nós viremos comer imediatamente». O clima desanuviou mas Salma anda estranha, Mané está pensando em lhe dar outro tipo de presente se o vírus demorar muito pra ir embora. 26/06/2020

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