quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Mané vai dormir. Está frio, ele está vestindo um pijama grosso de flanela e uma camiseta quente por baixo. Por cima de tudo um roupão de fleece. Quando chega perto da cama ele tira o roupão para deitar. Ajeitando as cobertas ele vê que Salma pôs do lado dela um cobertor de lã. Mané acha ridículo, um exagero. Um lençol e um acolchoado gordo já e o suficiente, ninguém está na Lapônia. Mané deita e sente a temperatura glacial da cama. Ele pega o livro e tenta ler mas seus pés se transformam em cubos de gelo. Ele resolve colocar um cobertor extra. Fica então um lençol, um cobertor e um acolchoado. Ele deita. Mané sente que ainda falta algo, sente frio nas coxas, nos joelhos e na bunda. E vontade de fazer xixi. De soslaio ele vê a colcha que vai por cima de tudo atirada sobre a poltrona do papai e resolve estica-la de novo. Temos então, um lençol, um cobertor, um acolchoado e uma colcha. Mané fica satisfeito quando entra debaixo desse conjunto e se sente totalmente aconchegado e protegido do frio. Tenta ler mas o peso das cobertas o impede e então ele resolve simplesmente dormir. Ele ignora a vontade de fazer xixi. Pouco antes de adormecer ele se pergunta se Milu estaria com frio mas num último laivo de consciência ele pensa: “foda-se, ele tem pelos e aquela roupinha que Samira põe nele no frio” e logo adormece debaixo de todas aquelas camadas. No meio da madrugada Mané acorda se sentindo sufocado. Ele não acredita mas está suando e não consegue se mexer, tem a sensação de estar deitado debaixo de um cavalo morto. Ele tenta tirar tudo o que o cobre mas são muitas camadas e ele se enrosca. Salma pergunta se ele está surtando mas finalmente aquilo tudo sai de cima e ele por fim adormece. De manhã, acordou coberto apenas com o lençol, tiritando de frio, com o rosto e as extremidades arroxeadas e Salma a lhe dizer que essa pandemia ia acabar com ele.26/8/2020

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