quarta-feira, 23 de setembro de 2020
O casulo arde. Mané tateia em busca do telefone. São 06h05min, Salma ainda ressona suavemente, pergunta que hora são e Mané lhe diz que são 12h10min, que ela precisa levantar para fazer o almoço. Faz você, ela responde, esquenta o que sobrou de ontem. Uma urgência primitiva faz Mané se levantar, a próstata cresceu e a bexiga diminuiu. Ele levanta para enfrentar a hostilidade gelada do mundo, não de todo mal nessa hora que a cama ficou muito quente. Depois do alívio Mané sente que ainda tem um pouco de sono e resolve voltar pra cama. Lá chegando encontra Salma deitada de través ocupando todo o espaço e abraçando todos os travesseiros. Ele senta na beirada e tenta empurrá-la de volta para a outra metade. Debalde. Salma parece pesar uma tonelada e Mané não consegue movê-la nem um milímetro. Mané esta descalço e sente seus pés congelarem, quer voltar pra debaixo das cobertas e tenta em vão empurrar Salma. Vem-lhe novamente a imagem do cavalo morto, Salma murmura explicações sobre a travessa que não pode ir ao microondas, pra ele transferir para a outra antes de esquentar. Mané diz que por enquanto só quer esquentar a si próprio, “volta pro seu lado, quero deitar”, ele dá a volta e tenta puxá-la pelo braço, mas lembra que no outro dia ela reclamou de uma dor no ombro e prefere não arriscar. Ele tenta então entrar pelo outro lado empurrando ao invés de puxar, sem sucesso. Mané começa a ficar puto da vida, Milu entra no quarto para averiguar a razão da movimentação, mas Salma, que está em outra dimensão, não se da conta de nada, ao contrario, abraça com mais fervor o travesseiro e puxa o acolchoado pra cima da orelha deixando de fora apenas o nariz. Mané pega um cobertor na poltrona, vai pra sala e deita no sofá. Uma nesga de sol já atravessa o ambiente e Mané anseia deitar e voltar a dormir. Milu raspa a pata no braço de Mané e Mané lhe da um repelão. Ele late e Mané sente que está ficando completamente acordado, os últimos resquícios de sono se perdem no olhar pedinte do cachorro. Mané senta no sofá e olha o cenário desolador à sua volta, casacos atirados a esmo, um par de chinelos, controle da TV no chão, um livro de borco. Mané volta pro quarto, são 07h10min. Ele diz pra Salma que são 09h25min, o café da manhã está pronto, que comprou pão quente e que a mãe dela tinha ligado. Salma se levanta de chofre e anda dez passos até o banheiro. Mané então ajeita a cama e os travesseiros, deita-se e puxa as cobertas até a orelha. E mais não sabe.28/8/2020
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