quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Os cachorros, ah os cachorros. Milu é uma pessoa de suma importância na casa de Mané. Com suas necessidades sempre prementes, bota ordem na casa e educa as outras pessoas. Laly, a cachorra de sua mãe, morta em maio passado, era mais importante ainda na casa dela. Por tudo isso e também pela companhia que fazia a ela. Ainda hoje quando Mané chega à casa de sua mãe, estranha o vazio que ela deixou. Laly foi tão importante que quase fez Mané acreditar em Deus. Não esse Deus invisível de hoje mas, sim, o Deus de antigamente que interagia e dava instruções pessoalmente para as pessoas, se é que me entendem. Quando o pai de Mané morreu o Rabino deu todas aquelas explicações sobre a elevação da alma dos mortos, o ciclo das rezas e como era importante rezar na primeira semana para que a alma encontrasse o seu caminho que, recém desencarnada, ficava perdida sem saber para onde ir. Mané provocativo perguntou ao Rabino “e onde ela fica”? O Rabino disse que não sabia mas que seria provável que ela rondasse seus últimos locais conhecidos e instintivamente Mané olhou para o quarto que seu pai ocupou no fim da vida que fica lá no fim do corredor. Distraidamente, olhou para Laly e percebeu que ela olhava para a mesma direção. Mané esteve na casa da mãe todo dia duas vezes por dia naquela semana e encontrava Laly sentada na ponta do corredor olhando em direção ao quarto. Quando Mané sentava ela levantava, ia até o meio do corredor e ficava latindo pro quarto. A mãe dizia: “ela pegou essa mania”! Mané pensava, estará latindo pro meu pai que está rondando sua última morada? Mané ficou na dele, chamava a cadela com um petisco, às vezes ela se acalmava, às vezes rosnava baixo ao invés de latir. Em uma semana tudo passou, o alívio foi geral. Pra mãe de Mané Laly finalmente parou de perturbar, já Mané achou que a alma do pai tinha finalmente encontrado o seu caminho. 15/09/2020

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