quarta-feira, 23 de setembro de 2020

A Vila Madalena está em reforma. As calçadas da maioria das ruas estão quebradas ou sendo. Quando um pedaço fica pronto, eles começam a quebrar outro. No outro dia Mané falou para Anuar, olha, esse pedaço está pronto. E realmente tinha lá um quarteirão com o cimento branquinho reluzindo. O entorno porém, era só entulho e pedregulhos, porque não terminam o serviço? Lá na frente passaram por uma calçada novinha que estava sendo perfurada. Mané, estarrecido, foi perguntar a razão para o trabalhador e este lhe respondeu que era para por aquelas lajotinhas amarelas para cegos. E porque não puseram antes de ficar pronto e quebrar de novo? Ah, disse o rapaz, daí precisava ter planejado, né? E porque não planejaram, grunhiu Mané. Bom, disse o moço, daí é melhor falar com o mestre, e apontou o queixo para um senhor gordo de barriga pra fora que estava encostado numa caçamba de entulho. Mané virou-se indignado e já se dirigia ao gordo quando sentiu o chão lhe fugir e caiu estatelado no meio daquelas pedras e da poeira reinante. Humilhado no chão, desistiu de dar qualquer bronca e, enquanto analisava se não tinha se quebrado pensou, que se fodam as ruas, o mestre, os engenheiros, secretários e o prefeito. Voltou pra casa triste e cabisbaixo, Salma fez pouco caso da raladura mas a dor que Mané sentiu nos três primeiros dias lhe fez pensar que as crianças, que volta e meia ralam os joelhos, são seus verdadeiros heróis. Já faz uma semana do ocorrido, as ruas estão do mesmo jeito, o joelho dói menos mas Mané ainda encontra material exsudativo todo dia nos lençóis e é precisamente isso que está incomodando a desumana Salma. 13/09/2020

Nenhum comentário: