sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

“Eu hoje joguei tanta coisa fora, eu vi o meu passado passar por mim. Cartas e fotografias, gente que foi embora”...e enciclopédias e livros e um livro com dedicatória. No tsunami de arrumação da pandemia Salma aponta pra Mané uma pilha de livros que um dia foram uma enciclopédia que Mané e seu pai colecionaram e encadernaram. Dez volumes da História do Século Vinte, que Mané não jogaria fora de jeito nenhum caso os volumes não tivessem se desfeito em pó quando tentou movimenta-los. Embaixo da pilha de entulho que se formou, Mané encontrou um livrinho em hebraico que lhe trouxe mais uma vez a lembrança de Orna, a garota de Israel. Um livrinho de poesias para crianças de A.A.Millen (Nós dois, numa tradução livre). Orna achava que Mané era infantil, e ele era. Ela, cinco anos mais velha, comprou esse livrinho e disse que leria pra ele antes de dormir como se faz com crianças, sublinhou. No período em que estiveram juntos, Orna o levava para passear, assava-lhe bolos, dava-lhe banhos e também o colocava para dormir. Ontem, quando Mané abriu o volume, que lhe foi entregue por ela um dia antes de voltar ao Brasil há quarenta e quatro anos, encontrou essa dedicatória e teve que pedir para um amigo de Israel traduzir. E quando leu a tradução, teve que pedir colo pra Salma porque por pouco não começou a chorar. Diz a dedicatória: “Sexta feira. Nós dois aqui e vc é meu ursinho Pooh. Com certeza vc poderá ler este hebraico, histórias que fazem parte dos anos de nossa juventude. Estou um pouco triste que vc se vai e por isso te entrego este livro que a gente lia junto e me é querido. Você vai encontrar nele um pouco das nossas coisas. Orna.” 19/10/2020

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