sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Há quinze anos Mané reencontrou seu colegas do ginásio. Houve uma grande festa e toda aquela agitação que resulta quando se reencontra o passado. A sabedoria do cérebro humano de obliterar as coisas ruins faz com que tudo se torne prazeiroso. Não totalmente. Desse “vale a pena ver de novo”, resultaram pequenos encontros aos sábados quando os mais resilientes sentavam para um café e jogar conversa fora. E assim foi, todo sábado, até que surgiu o Corona. As conversas presenciais transformaram-se em conversas pelo zoom e no começo até que a coisa funcionou, ficavam conectados por 80 minutos e pode-se até dizer que passaram bons momentos. De um tempo pra cá, as conversas foram se esvaziando, passaram a durar só os 40 minutos iniciais, alguns começaram a faltar, até que os mais atirados conjecturararam a retomada dos encontros presenciais. Alguns falaram que sim, outros que talvez, outros que sim mas não iam nem tomar café para não tirar a máscara. Mané disse que não. No outro dia entrou numa padaria chic pra comprar uma baguete com fermentação natural para Salma e assustou-se ao ver o local pequeno lotado, cheio de gente amontoada e sem máscara que dirá sentar-se numa doceria em Higienópolis, sábado a tarde com gente saindo pelo ladrão, todos cuspindo coronavirus um no outro. Ninguém falou claramente mas Mané está sendo taxado de bundão e nessa altura do campeonato ele teme que o Corona consiga fazer o que nem o tempo, nem as desavenças escolares conseguiram.25/10/2020

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