sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
Mané já fumou, ele confessa, algumas vezes, um baseado de maconha. Tratava-se dos anos 70, não tinha como escapar, mas ele não é nenhum viciado. Talvez o assunto drogas fosse menos pesado que hoje, nem se falava “droga”, digamos que fosse uma peraltice juvenil, uma maneira de mostrar como eram rebeldes.
Um conhecido dele, agrônomo, resolveu certa feita, plantar alguns pés da Canabis no sítio onde moravam seus pais. Sob os cuidados da mãe zelosa, as mudas floresceram e como ela dizia docemente, “essas plantinhas são danadas de bonitas, dá gosto de ver como crescem e que cheirinho delicioso que elas têm”. Tempos depois, na hora da colheita, o agrônomo comentou nunca ter visto tanta maconha junta que, depois de processada, tinha resultado em uns 30 tijolos.
Desesperado para se livrar do produto, ofereceu a todos que conhecia uma generosa quantidade. Era só passar no sítio e pegar os pacotes com a sua inocente mãe. Agradecido e excitado, Mané foi com um amigo até lá, onde já os esperava a mãe com uma sacola de supermercado que continha 3 tijolos. A quantidade assustou, mas fizeram a viajem de volta sem sobressaltos apesar do pavor de serem parados na estrada. Num belo dia decidiram começar a consumir a coisa.
Na casa do amigo, numa dessas tardes sem nada para fazer, eram cinco pessoas a enrolar cuidadosamente os baseados enchendo-os generosamente com as folhas prensadas.
Janela fechada para os vizinhos não sentirem o cheiro, em ½ hora, já estavam envolvidos numa densa e cheirosa neblina, estava difícil enxergar a cara da pessoa do lado e quando começou o primeiro ataque de riso, resolveram mudar de ambiente. Com aquelas caras de bobos, sentaram à frente da TV e lá tentaram definir o que sentiam, desde a sensação do corpo mais leve, até achar graça de tudo. Logo depois de uma tentativa frustrada de beijar a irmã do dono da casa, Mané começou a sentir muita sede e uma vontade de comer doce. Depois de tomar um monte de água direto da torneira, voltou para a sala com uma caixa de “alfajores” argentinos encontrada numa despensa.
Enquanto devoravam os alfajores escutaram a porta abrindo e alguém dando um “olá tem alguém em casa?”. Paralisados, ninguém acreditava que acabava de entrar em casa a dona da casa. Depois de engolir mais um alfajor, Mané olhou em volta e deu com o olhar pasmado de todos e, nos filhos da mãe, uma máscara de pavor.
Escutamos os passos dela a ir para a cozinha. “Quem deixou a torneira aberta? Porque a despensa está aberta? Que cheiro de queimado é esse? Que fumaceira é essa no quarto? Porque não abrem a janela?” Silêncio.....Passos...”Que cheiro estranho! Onde é que vocês estão?” A mãe deles para na porta da saleta sacudindo um saquinho cheio de maconha. “Alguém pode me dizer o que isso significa?” Grande silêncio...Depois de uma eternidade, Mané corajosamente fala: É maconha! Todos olham em surpreso desespero. A mãe o encara estupefata. Depois, indecisa, lança um olhar incrédulo e, súbito, virando-se de forma teatral, larga o saquinho no chão e diz: “Como maconha? Que maconha? E dá meia volta pisando firme: “tsc tsc, essas crianças” 03/12/2020
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