terça-feira, 30 de março de 2021

Já não sabendo mais onde caminhar, Mané e Anuar resolveram ir à Av.Paulista. A ideia era estacionar no Conjunto Nacional e ir andando e direção ao Paraiso. Ir em direção ao paraíso da uma sensação de bem estar. Assim fizeram, Mané deixou o carro numa vaga de idoso, colocou o cartão vencido no painel e saiu para a rua. Logo de cara se depararam com uma fila na frente do consulado italiano que dava a pinta de estar fechado, o que será esta fila? Mané e Anuar tiveram que andar pelas bordas das calçadas para fugir da grande quantidade de gente que perambulava no sentido contrário e a favor também. Famílias passeando com cachorros, funcionários dos Ching Ling entregando cartões: «vai trocar a película hoje dôtô»? Fila na frente do quiosque do Meki, fila na frente do banco mas o que mais impressionou Mané foi a enorme, a monstruosa, a enorme quantidade de miseráveis, noias e pedintes acampados na mais paulista das avenidas de São Paulo. Compra um balinha pra me ajudar, faz três dias que não como, me paga um café, ou simplesmente aquele olhar baço de aflição. Na altura da Fundação Japão, Mané resolveu atravessar a avenida e voltar pelo outro lado. Resolveu também parar de atender aos pedidos dos esmoleres senão amanhã ele próprio teria que voltar a avenida como pedinte para cobrir o rombo, Mané gastou um bom dinheiro com os miseráveis. Do outro lado da rua a coisa parecia mais tranquila, só que não. Em adição à aquela fauna, muitos vendedores com mercadorias espalhadas pela calçada atrapalhavam a circulação dos pedestres. Encerraram a caminhada em silêncio. Mané e Anuar entraram no carro amuados e assim ficaram até chegar em casa, no pacato rincão da Vila Madalena. Mané veio pensando no dia em que os miseráveis, quais zumbis, começarão a atacar os passantes, invadir seus carros e vidas, arrancarão seus pertences à força ao invés de pedir com cara de choro. Mané, sentindo-se culpado sem saber porque, cumprimentou com uma buzinada o vendedor de brigadeiro que fica na esquina de sua casa. Encostou ao lado dele e comprou 50 reais de brigadeiros. «Que beleza seu Mané, vou pra casa mais cedo!» E Mané, olhando para aquele lote de brigadeiros, disse: «antes de ir pra casa, vai andando pela rua e entrega dois brigadeiros para cada porteiro do quarteirão e se encontrar mendigos, entrega três para cada um». Mané entrou na garagem com a cabeça fervendo, Anuar reclamou que poderiam ter ficado com alguns brigadeiros para comer e Mané disse que amanhã compraria mais, «vamos distribuir brigadeiros na Av.Paulista». 15/01/2021

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