terça-feira, 30 de março de 2021

Mané sempre se auto-critica por ser um homem de poucos vícios. Não toma porre, não fuma nem cheira e nunca participou de orgias. Sem graça, né? No entanto Mané é viciado em livros. Esse aí é o sexto volume da série que o autor teve a infeliz ideia de batizar de Minha Luta. Mané, a contragosto, leu o primeiro volume e gostou, claro que o livro não tem nada a ver com apologia ao nazismo. Todos os volumes são gordos, 700 páginas na média, e Mané leu todos os cinco com gosto, e ficou esperando pelo sexto, que saiu esses dias. Na vida anterior, que vigorou até março 19, ele o teria comprado sem nenhuma hesitação. São 1000 páginas, 160 reais. Ele teria comprado rapidinho. No entanto agora, à espera do dia D e da hora H, ele leva 10 dias pra ler um livro de 200 páginas e por isso ficou na livraria olhando pro volumão cheio de dúvida e saiu de lá com as mãos abanando. Disse pro vendedor que o observava com avidez, que estava a pé, o que era verdade, e que voltaria depois de carro, o que pode ser mentira. Diante da dúvida, Salma lhe sugeriu comprar o tijolo na Amazon e Mané olhou pra ela e respondeu: “vamos esperar um pouquinho”. Na pandemia, como sequela extra do Corona, Mané tem estado desconcentrado, tem bebido mais e sentido vontade de comprar drogas fungáveis, fumáveis ou injetáveis e até pensou em organizar uma orgia mas o distanciamento social e Salma o impedem. Ele tem medo de passar dois meses com esse livro no nariz, ficar achando que é pesado, difícil de manusear e pior, já pensou se esse último volume for ruim e ele tiver que larga-lo largo no meio, quebrando todo o encanto já obtido com a série? Nunca antes na vida Mané teve pensamentos desse teor e Mané está com medo de que “num domingo qualquer, qualquer hora, com ventanias em qualquer direção”, nada volte a ser como antes quando, apesar de tudo que tinha de ruim, era bom.12/01/2021

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