sábado, 25 de setembro de 2021

Em janeiro de 1998, aos 42 anos, Mané foi para a Flórida com a família, levando a reboque o sogro e a sogra que, naquele momento, tinham a mesma idade que Mané tem hoje. No entanto, para todos os efeitos, o vô e a vó, já eram dois velhinhos. Alugaram um carro grandão, reservaram todos os hotéis de antemão e preparam um roteiro rígido para não se sentirem perdidos já que, com as crianças e os velhinhos, a carga de responsabilidade aumentava. Muna e Giovanni, 64, nunca tinham saído do Brasil a não ser para um bate e volta de carro para a Argentina, isso quando eram jovens e com filhos pequenos. Samira, 9 e Anuar, 4, iam felizes para onde iam os pais e, na companhia dos avós, melhor ainda. Sentindo-se responsável pelos sogros que não falavam uma palavra de inglês, Mané foi rigoroso com horários e destinos e os sogros, de repente transformados em crianças obedientes, seguiam todas as instruções sem reclamar, mas, poucos dias depois de chegar, Giovanni aprendeu a pedir draft beer por conta própria. Na primeira semana fizeram o roteiro dos parques em Orlando. “Você vai lembrar onde deixou o carro”, perguntava Giovanni. E Mané respondia: “sem problema, está no lote Pluto 23”. Depois Mané escutava de o sogro resmungar: mas que porra é Pluto 23? Divertiram-se como crianças, até fila era bom de pegar. Depois de ir ao último parque em Tampa, foram fazer um tour pela costa do Golfo. Sarasota, Fort Myers, Naples, onde o sogro jurou que ia se aposentar, mas ele não cumpriu a promessa. Uma ou duas noites em cada lugar, arrumaram as malas para ir até as Keys. Key Largo, Islamorada e Key West onde o sogro não se adaptou por achar que tinha muitos hippies e maconheiros pelas ruas, “isso aqui não é lugar pra criança”. Para enfrentar as longas viagens de carro, Salma e Mané tinham levado uma fita dos Talking Heads e outras com músicas infantis em inglês. Row row row your boat gently down the stream, if you see a crocodile dont forget to scream, nessa hora todos no carro gritavam: ahhhh! Parece meio bobo agora mas à época, foi bem divertido. Em seguida revezavam com o Talking Heads e um dia, enquanto David Byrne cantava Psycho Killer pela milésima vez, Giovanni reclamou que as rádios americanas eram muito limitadas, só tocavam essa Psycho não sei o que e a música do crocodilo. Salma e Mané não disseram nada, mas passaram a ligar o rádio ao invés das duas fitas, mas aí ele passou a reclamar que não entendia nada do que falavam. Teve ainda um circuito de compras em Miami nos últimos dias mas, dessa parte, Mané não guardou nada a não ser um blusão de moletom que ganhou da sogra e que hoje em dia, no frio, usa pra dormir. Os sogros passaram muitos anos lembrando-se da viagem e Mané também. Hoje acordou com isso, vai entender. 31/7/21

Nenhum comentário: