sábado, 25 de setembro de 2021
Hoje eu não vou me esconder atrás do Mané ou talvez fosse mais conveniente dizer que não vou me expor através dele, não sei. Vou falar da minha mulher e por isso tenho que voltar até o ano de 1982, quando um amigo que tinha passado um ano comigo em Israel, começou a namorar com uma garota e eu, que estava avulso, saia muito com eles, a três. Seis meses depois eles brigaram e eu continuei amigo da ex-namorada. Avulsos os dois, saíamos para andar de moto, ir ao cinema, jantar, etc. Não sentimos atração um pelo outro e então ficamos sendo amigos mesmo. Num fim de tarde ela me liga dizendo que ia comer uma pizza com umas amigas, se eu queria ir ao cinema depois. Sim, eu queria, e fui pegá-la na pizzaria de onde ela saiu com mais três meninas, todas estudantes de psicologia da PUC. Cumprimentei todas de longe sendo que, uma delas, de nariz grande, cabelo cacheado e rosto levantino, chamou-me à atenção, mas, a ex-namorada do meu amigo, logo subiu na garupa e de lá chispamos os dois rumo ao cinema, como melhores amigos. Era o fim do ano e chegou a formatura da ex-namorada, a comemoração num boteco na Rua Monte Alegre. Todos os amigos presentes, meu amigo e ex-namorado também psicólogo e também a amiga com cara de árabe, que nesse momento eu já sabia chamar-se Viviane. Passei a noite tentando puxar conversa, mas ela não me deu muita bola, combinava a viagem de férias, falava sobre os temores da vida profissional que se iniciava, enfim, no fim da noite, na hora de rachar a conta, eu mal tinha conseguido trocar poucas palavras com a Vivi, quando vejo que ela começa a preencher um cheque, coloca o telefone no verso e o joga na mesa encima de muitos outros. Disfarçadamente, olhando para os lados, peguei o cheque dela, dobrei e guardei no bolso e coloquei no lugar um da minha lavra, com o dobro do valor. O tal cheque passou as ferias na minha carteira. Em fevereiro estou com um amigo passeando de moto à noite e resolvemos tomar um chope no Bar 22 em Pinheiros. O lugar está cheio e por isso bebemos o chope na calçada encostados na moto sem a preocupação de que teríamos que dirigir depois alcoolizados e sem capacete. Súbito, vejo a psicóloga levantina sair do bar com uma amiga. Você por aqui, ela me cumprimenta friamente, apresenta a amiga e começa a ir embora. E eu: mas, já vai? Logo agora que eu ia começar a falar com você? Ela riu e disse que lamentava, tinha consultório cedo amanhã. Ela estava usando uma minissaia jeans apertadinha e alpargatas verdes da cor da blusa mas, mesmo assim, virou as costas e se foi. No fim de fevereiro estamos na festa de aniversario da amiga ex-namorada do amigo. Vivi chega à festa com um sujeito. Ficam namorando a noite toda na minha frente e a certa altura saem de fininho me deixando com o coração partido. Naquela noite fui consolado pelo meu primo e resolvi que aquela garota não funcionaria pra mim. Dias depois, arrumando a carteira encontro o cheque que eu tinha roubado na formatura. Sem pensar pego o telefone e disco. Alô, eu digo, tem uma festinha de um amigo no sábado, você quer ir? Claro, ela responde, posso levar uma pessoa? Uma pessoa, pensei enquanto rasgava o cheque em mil pedaços, ela que não me chegue com aquele sujeito raquítico e com cara de ameba porque sou capaz de quebra-lo em dois. Guardei os pedaços do cheque na carteira. No sábado à noite eu a vi chegar com duas amigas e respirei aliviado. Dançamos, bebemos, nos agarramos um pouco com o maior respeito, tudo ia correndo muito bem, mas quase no fim da festa ela chega chateada e diz que roubaram a bolsa dela, que ela queria ir embora e vai! Dia seguinte o amigo dono da festa encontra a bolsa na arrumação, com os seus documentos, um modess e sem o pouco de grana que antes continha. Menos mal. Ligo para lhe devolver seus pertences e percebo que ela fica com vergonha por causa do modess. Antes de ir, eu digo: tenho mais isso pra devolver e coloco o cheque picado na mesa. Ela não entendeu e então eu expliquei e, enquanto espero o elevador ela ri da traquinagem. Não precisava ter roubado o cheque, se você tivesse pedido eu dava o telefone. Aí eu digo: bom, agora já tenho e ela ri de novo. Abro a porta e entro no elevador ela, segurando a porta, diz: vamos ao Mistingueti domingo? E eu: Ah, quem vai? E ela: se você for, seremos nós dois.
Pra casar com essa moça católica tive que enfrentar meus pais, tive que ouvir os pais dela perguntarem se nossos filhos seriam pagãos e nunca imaginei que chegaríamos tão longe. Segundo minha mãe, ela é a melhor nora que alguém poderia desejar, verdade que não há outra, fiquei amigo do pai dela, e quando ele morreu eu chorei a sua morte tanto quanto chorei a do meu, e, apesar de ela ter dois irmãos, fui eu que levei a mãe dela, junto com a minha para tomar a coronavac. Hoje é aniversario dela, não vou denunciar a idade mas ela já tomou duas doses de vacina e vamos caminhando para 37 anos de casados por isso resolvi escrever esse texto de presente para ela e agora que reli, não sei se ela vai gostar que eu a chame de levantina mas, fazer o que, tenho sangue árabe, gosto de mulheres com aqueles traços orientais fortes. 22/06/21
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