sábado, 25 de setembro de 2021

Mané está numa excursão pelo deserto do Sinai. O ano é 1976 e o grupo acaba de descer do local onde Moisés recebeu os dez mandamentos depois de visitar o que restou da sarça ardente que está conservada numa cúpula de vidro, acredite se quiser. Estão num caminhão adaptado para carregar gente e o guia está lá na frente gritando as instruções sobre a próxima atividade. Eles vão almoçar comida típica numa aldeia beduína onde as pessoas só falam árabe e muito pouco de inglês. O guia pede que o grupo de jovens seja respeitoso, que não façam peraltices e que se comportem como uma visita pouco íntima. Nada de se afastar do grupo e ficar de olho nos dois seguranças que viajavam com eles para qualquer eventualidade. Tenso, mas o grupo de jovens não estava nem aí e o almoço, pão pita e schwarma preparados em pedras quentes, transcorreu de forma tranquila. Súbito, escuta-se uma comoção ali adiante, perto de uns pequenos rochedos. Todos, liderados pelos dois seguranças armados de metralhadoras UZI, correm na direção de onde vieram os gritos. Atrás das pedras eles se deparam com dois membros do grupo, uma menina carioca, loira e gordinha e um uruguaio que era o “enfant terrible” do grupo, sendo ameaçados por um beduíno armado com uma daquelas adagas árabes curvas. Num cercado, sete dromedários observavam a cena impassíveis. Tentando acalmar a situação os seguranças perguntaram o que acontecia e o beduíno injuriado contou que o uruguaio tinha lhe vendido a menina carioca e não queria entregar. Chamaram o chefe da aldeia e ele confirmou que o menino tinha concordado em vender a gordinha carioca em troca de sete dromedários, que tinha testemunhas e que só restava entregar a garota. A confusão só fazia aumentar, os beduínos não aceitavam a desculpa de que o rapaz era desmiolado e que tudo tinha sido um mal entendido. Os seguranças então nos orientaram a recuar devagar em direção ao caminhão enquanto eles nos davam cobertura, metralhadora em punho. Mané sugeriu que, ao invés de brigar, oferecessem dez dromedários para recomprar a menina mas mandaram-no calar a boca. Com todos no caminhão, o motorista deu a partida no motor e, sob gritos, ameaças e protestos dos beduínos, fugiram de lá em alta velocidade. Nas horas que se seguiram, houve uma assembleia para decidir o que fazer com o uruguaio. Choveram propostas. Alguns sugeriam enforcamento enquanto outros achavam melhor entregá-lo aos beduínos. Depois da reprimenda, mais relaxados e fora de perigo, houve uma discussão sobre o preço da venda, os sete dromedários, e Mané, oriundo daquelas paragens, argumentou que sete era um número muito alto, o dromedário é um bicho valorizado no Egito. A garota carioca começou a chorar, disse que não deviam brincar com aquilo, que todos tinham corrido risco de vida. Dias mais tarde, no Kibutz em Israel, Mané conversando com a carioca que estava bem mais relaxada, disse que o tal uruguaio era uma besta, que se a oferta do beduíno tivesse sido pra ele, Mané, teria pedido ao menos setenta dromedários e aí nenhum problema aconteceria porque quem iria aceitar pagar esse preço por ela? 11/9/21

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