sábado, 25 de setembro de 2021

Mané leu uma história aqui no face que lhe trouxe à memória um episódio ocorrido no início dos anos 1980 quando trabalhava naquele prédio do Unibanco que ficava na Praça do Patriarca. Mané trabalhava no Leasing, um departamento que dividia o 18o andar do prédio com o escritório brasileiro Dai Ichi Kangio Bank, então sócio do Unibanco. Os japoneses eram vizinhos de andar, tão distantes quanto cordiais, sendo que Mané levou bastante tempo até conseguir quebrar as barreiras culturais e com o tempo, fez bons amigos por lá que, entre outras coisas, o ensinaram a apreciar a culinária japonesa não tão conhecida à época. Um dos rituais que Mané estranhou ocorria ao final do expediente. Todo dia, pontualmente às 17hs, o chefão dos orientais ia embora. Sisudo e de cara fechada, saia da sua mesa em direção aos elevadores e era seguido por todos os funcionários que o acompanhavam até o hall dos elevadores, onde eles se postavam em um semi círculo ao seu redor enquanto aguardava o elevador. Quando as portas se abriam, o sujeito entrava no cubículo e virava-se para o séquito e nesse momento todos abaixavam a cabeça para fazer uma reverência e assim ficavam até a porta quase fechar, quando todos voltavam à posição ereta. Um dia, Mané estava lá nessa hora, aguardando um pouco afastado o término do ritual. As portas abriram e o chefão entrou. O ascensorista que era novo e desconhecia a liturgia, enquanto as portas fechavam, viu todos abaixando do lado de fora e, confuso, apertou um botão e as reabriu. Ato contínuo, todos voltaram à posição ereta e quando as portas começaram a fechar, eles abaixaram novamente e o ascensorista reabriu as portas. Ficaram nesse abre e fecha, levanta e abaixa por um bom tempo quando, sem mais suportar o impasse, Mané acenou e gritou pro ascensorista: “deixa as portas fecharem, meu irmão, ninguém mais vai entrar”. Quando o elevador finalmente desceu, Mané e todos os japoneses que ficaram deram algumas gargalhadas contidas e Mané, que já estava atrasado, tomou outro elevador e desceu. No dia seguinte pela manhã Mané cruzou com o chefão japonês no corredor. O homem estacou à sua frente com o semblante fechado e Mané até achou que viria uma repreensão por ter interferido na dança do elevador no dia anterior. No entanto, totalmente parado à frente de Mané, abaixou a cabeça e, torcendo levemente o tronco para baixo proferiu: “arigatô Maneo-san”, retirando-se sem mais nenhuma palavra. 16/05/21

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