sábado, 25 de setembro de 2021

Mané trabalha numa ong onde cuida da área financeira. Há 20 anos atua tendo como chefe uma mulher idealista, a presidente da instituição. Problemas, sugestões, projetos, dia a dia, tudo foi sempre resolvido com dois dedos de prosa entre duas, no máximo três pessoas. Nem tudo eram flores, claro, Mané brigou muito com sua chefe e o problema sempre foi dinheiro, ela querendo gastar, ele querendo economizar. Nesses 20 anos a ong quintuplicou o seu orçamento, pagou ou equacionou todas as dívidas, limpou o passivo trabalhista e passou a ter crédito e credibilidade junto a bancos, órgãos públicos e privados com os quais se relaciona. Nesse período conseguiram apoio e financiamento de diversas empresas brasileiras e de algumas fundações estrangeiras. A instituição conseguiu, nos últimos dez anos, fechar o calendário anual com caixa positivo, o que é uma raridade neste mercado de ongs de pequeno porte. Em especial o resultado de 2020, em meio ao coronavírus, foi o melhor da história. Tudo lindo, mas...sempre tem um mas. A instituição já tem quase 30 anos de vida, como disse Mané foi fundada por um grupo de idealistas e, é claro, todos estão ficando velhos, até mesmo o Mané que vos fala. Já se percebe uma menor disposição para bons combates e alguns apoiadores, corretamente preocupados em perenizar o projeto, sugeriram a formação de uma equipe que viesse a suceder a atual. Como diz aquela música de Chico: “não se afobe, não, que nada é pra já”. E então? Estão prontos a soltar a mão do filho e deixá-lo para o mundo? Nunca estamos. Mané sabe que ainda tem alguns anos úteis pela frente mas não sabe quantos. A proposta de renovação faz todo sentido, mas faz mais sentido pra quem é mais jovem. Sem drama, Mané já pode enxergar uma mão à espera do bastão e, voltando à música do Chico, “os escafandristas explorando sua casa, seu quarto, suas coisas, desvãos, tentando decifrar o eco de antigas palavras, fragmentos de cartas, mentiras e retratos”. Sim, Mané sabe que vai levar um tempo, mas a sensação de finitude não é agradável. No próximo capítulo, a contratação do novo CEO. 30/04/21

Nenhum comentário: