sábado, 28 de janeiro de 2017

Para não encompridar muito essa história que Mané nos conta desde anteontem, ele tem a dizer que diante do quadro que se ofereceu, fez o que já vinha fazendo: nada! O mês de março passou e Mané recebia notícias dela o tempo todo: está namorando, brigou com o namorado, arrumou um emprego, enfim. Mané a via com certa frequência e optou por adotar uma postura superior, cumprimentava-a com afabilidade e era correspondido, mas mantinha certa distancia, aquela distancia que se mantém para evitar novos dissabores. Evitava dissabores mas também deixava Mané paralisado em estado de total catatonia, só o cheque surrupiado em dezembro é que continuava gritando ali dentro da carteira. Durante o mês de março e em parte do mês de abril, Mané não trocou mais de uma dúzia de palavras quase protocolares com ela, mas percebeu que havia uma troca de olhares um pouco diferenciados, ou estaria enganado? Mané não tinha se recuperado do trauma do final do verão e não estava disposto a se arriscar novamente e assim seguia na sua política de neutralidade, sem graça e sem dor. Em meados de abril de 1983, quis o destino que ambos se vissem numa situação em que acabaram ficando sozinhos, ela sem condução, ele de moto. “Quer uma carona”?, Mané perorou. Ela, por sorte, queria. “Mas eu estou de moto”. “Moto?” “Sim, moto”! “Ah, tudo bem, faz tempo que não ando de moto, você tem capacete pra mim”? Mané disse que não tinha capacete nem pra ele, mesmo assim ela montou na moto e agarrou Mané por trás muito bem apertadinho, Mané julgou que muito mais que o necessário, encostou o rosto nas suas costas e colocou as mãos nos bolso da jaqueta dele, já fazia friozinho em abril. E assim singraram pelas ruas ensolaradas de uma São Paulo que ficou bonita de repente, cada vez que Mané acelerava, ela o apertava um pouco mais e assim chegaram sem nenhum incidente até a casa dela. Ela fez sinal ao porteiro e Mané adentrou com a moto na garagem e estacionou assim perto do elevador. Ela desceu da garupa e agradeceu a carona, oscularam-se na face e ela deu dois passos pra trás quando Mané percebeu certa hesitação. Depois de poucos segundos ela andou de volta os dois passos que tinha retrocedido, colocou uma das mãos no guidão da moto e a outra espalmada na coxa de Mané. Mané sentiu um leve tremor, mas não deu nenhuma demonstração de descontrole. Ela olhou nos olhos dele e disse: “você tem alguma coisa pra me dizer e esta tentando fazer isso há meses, nós nos vimos um monte de vezes e você não fala nada, só fica olhando”! E Mané: “eu?” “Sim, olha, vamos deixar de rodeios, me explica logo aquela história do cheque que você roubou em dezembro”!14/06/2016.

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