quarta-feira, 12 de julho de 2017

Mané trabalha numa instituição que cuida de crianças em situação de risco, vítimas de abuso e violência. Perto de datas festivas, chegam muitas doações que combinam com a efeméride, por ex, panetones no Natal, brinquedos no dia das crianças e, claro, ovos de chocolate na páscoa. Nesta tarde, depois de ter sido feita, farta distribuição entre os abrigados, suas famílias, funcionários e filhos de funcionários, a presidente da ONG notou que sobraria muito chocolate, que provavelmente acabaria sendo desperdiçado, o que é um desaforo. Para evitar isso ela foi até a sala de Mané e lhe sugeriu que pegasse certa quantidade, colocasse no carro e que fosse distribuindo chocolates no seu caminho até em casa para qualquer criança que encontrasse na rua. A princípio Mané achou estranho, mas enfim se dispôs a cumprir a tarefa e, com uma caixa cheia de guloseimas, saiu à caça de criancinhas nos semáforos e ruas de São Paulo. Além da sensação gostosa do vidro escuro aberto, coisa rara devido ao risco, Mané estava imbuído da sua missão, o que também era bom. Não demorou pra encontrar seus primeiros fregueses: na porta da fave...digo, da comunidade vizinha à ONG, Mané parou ao lado de uns moleques que jogavam bola no meio da rua; “querem chocolate?” Logo Mané viu seu carro ser cercado, “dá um pra minha irmã que não esta aqui”, “prefiro uma daquele azul”. Logo Mané se afastou e seguiu o seu caminho. Mais adiante, na Tutóia, uma família, mãe e três filhos, sentados na calçada levaram mais um pedaço do lote. Ficaram olhando sem entender. Ok, Mané não precisa se alongar. Da Vila Mariana até a Vila Madalena, Mané esgotou seu estoque, tem bastante gente comendo chocolate nesse momento, mas o melhor de tudo é que esses 45 minutos de trajeto, foram os melhores 45 minutos de Mané nos últimos 45 dias.

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